Em Lisboa para participar num evento da FLAD, Daniel da Ponte, Evandro Carvalho, Rosa Rebimbas e Tony Cabral falaram ao DN sobre o presidente e a América de hoje.
Com Trump prestes a cumprir cem dias na Casa Branca, Rosa Rebimbas garante que o presidente "está a fazer aquilo que disse que ia fazer na campanha". O que é diferente em relação aos antecessores, explica a representante republicana no Congresso estadual do Connecticut, é a atenção com que todos estão a olhar para os seus gestos e palavras. "Já sabemos que ele não é um político, vem da área dos negócios, com um discurso firme", diz. Sentado ao seu lado, Daniel da Ponte até concorda: "O facto de ter sido empresário pode ser positivo. Como americano orgulhoso tenho uma certa simpatia por ele dizer que a América não se deve rebaixar". E nem o facto de ser democrata impede o senador estadual de Rhode Island de admitir que "se há alguém capaz de negociar uma solução para a reforma da imigração é Trump".
Daniel da Ponte e Rosa Rebimbas estão em Lisboa para participarem, hoje e amanhã, no Legislator"s Dialogue, um evento organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e que conta com a participação de dezena e meia de representantes luso-americanos e de políticos portugueses como o líder do PSD Pedro Passos Coelho, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no encerramento.
Rosa e Daniel sentaram-se à mesa com Evandro Carvalho e Tony Cabral, ambos congressistas estaduais do Massachusetts para uma conversa sobre a América de hoje. E com dois filhos de imigrantes portugueses já nascidos nos EUA, um natural da ilha do Pico e um nascido em Cabo Verde, a imigração era assunto incontornável. "Trump não tem interesse nisso, na reforma da imigração. Se queria uma reforma legal, devia ter trabalho com o Congresso antes de assinar um decreto presidencial passados apenas 30 dias de ter chegado à Casa Branca", afirma Evandro, num português pontuado de expressões em inglês. Para Rosa, "são dois assuntos separados. O decreto presidencial foi para garantir a segurança dos EUA, como é o muro na fronteira [com o México], mas também há propostas para a reforma da imigração". Calado durante algum tempo, Tony Cabral intervém para lembrar que "o decreto presidencial não era só para bad hombres [os "homens maus" de que Trump fala], era para todos os indocumentados".
Para Daniel da Ponte, o verdadeiro problema está na lei atual. "Qualquer português que também seja cidadão americano e queira levar um familiar para os EUA fazendo uma carta de chamada legal, a demora é de 12 anos. Quem é que vai esperar 12 anos se pode ir com um visto por 90 dias e ficar, arriscando a sua sorte?", questiona o senador. A solução para uma reforma justa e rápida da imigração, garante, passa pela comunidade empresarial. "Não interessa se é a Apple ou um agricultor da Califórnia, o problema é o mesmo: ou não tens o talento ou não tens americanos que queiram fazer o trabalho. Do ponto de vista egoísta dos EUA, se queremos os melhores, estejam eles onde estiverem, temos de criar as condições para os ir buscar", explica.
Rosa espera que para isso haja apoio dos dois partidos, mas antecipa um choque quando o debate chegar à questão dos imigrantes ilegais. E não resiste a lançar uma farpa aos três colegas democratas, lembrando que a reforma da imigração era uma prioridade de Barack Obama e oito anos depois "não aconteceu".
Muito devido à sua história pessoal, Evandro confessa que este assunto tem "muito impacto" nele. "Tive a sorte de chegar com documentos, mas tive colegas que andaram comigo no liceu e apesar de serem bons alunos não foram para a universidade por serem ilegais", conta. "A minha mãe chegou em 1990 e o meu pai morreu em 1993. Ela voltou a casar com um cidadão americano. Por isso fomos para os EUA de forma legal. Mas presumo - porque só tinha dez anos! - que ela tenho ido sem documentos. Com um visto de férias, como toda a gente!", exclama. E só agradece uma coisa: é que então Trump não estivesse no poder. "A minha mãe teve três empregos, um agente da imigração podia ter ido a uma das fábricas onde ela trabalhava", lembra. E lamenta que o presidente republicano tenha agora alargado o espetro de quem pode ser deportado, mesmo tendo cometido um crime menor.
"Conheço uma pessoa que foi deportada por ter roubado um saco de roupa", garante. Palavras que levam Rosa a intervir. Como advogada especializada em imigração, esta garante que isso depende dos antecedentes. "Se só roubou um saco de roupa, não vai ser condenado ao ponto de ser deportado", diz, perentória, recorrendo ao inglês, tal como o congressista do Massachusetts fizera antes.
Evandro não parece convencido, tal como Daniel, que entra na discussão dando um exemplo de uma deportação no seu estado de Rhode Island de uma mulher que roubara produtos de beleza. "Mas, voltando a falar português: há muitos assuntos muito mais preocupantes, como o tráfico de crianças e essas desgraças. Quem comete esses crimes é que devia ser prioritário", afirma, serenando os ânimos.
De volta ao português e questionados sobre a importância da língua, todos garantem que é muita. "E este é um assunto em que vamos todos concordar", remata Rosa.