Não, a Maria não nasceu na Madeira. Mas será que isso faz realmente diferença? Ela nasceu com a Madeira no coração, e na vida que escolheu para si – chama-se “folclorista” – procura as raízes e as tradições e os costumes da terra dos pais, ambos de Machico.

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Já nasceu em São Paulo, terra onde nasceu, e onde se casou com Pedro (que curiosamente também nasceu no Brasil – mas só por uma questão de dias, também de pais madeirenses), e onde desenvolve a sua actividade, sempre próxima da Casa da Madeira em São Paulo.

A sua ligação ao folclore da Madeira aconteceu quase por acaso. Ouviu falar de um festival internacional de folclore que teria lugar na Madeira, pediu uma reunião com a direcção da Casa da Madeira, e enquanto esperava pelo fim de uma reunião, explicou o seu projecto a outras pessoas que lá estavam com ela. Ainda antes da reunião começar já tinha reunido parte do que precisava, e na sua primeira viagem à Madeira interveio no congresso, dizendo que estava ali para estudar o folclore madeirense, e que o queria promover e divulgar no Brasil. Trouxe uma mala vazia, mas que não ficou assim muito tempo – quando voltou tinha amostras, e fatos do folclore madeirense que ainda hoje estão no acervo do grupo que dirige, na Casa da Madeira.

Uma das primeiras pessoas que conheceu no âmbito desta visita foi D. Arsénia, da Casa do Povo do Curral das Freiras, que continua a ver e visitar cada vez que vem à Madeira. E entretanto foi fazendo a recolha de trajes e tradições de toda a ilha.

Foi convidada a ser “conselheira da diáspora”, e diz que entende o convite como uma missão. A missão de fazer o que pode pelos madeirenses em terras de Vera Cruz. E, como complemento, de fazer o que pode pelos brasileiros na Madeira, completando assim a ponte entre as duas culturas.

Para manter o grupo folclórico e cobrir os custos inerentes à sua actividade, organizam todos uns anos uma espécie de arraial madeirense, com barracas em que se serve espetada, “gaiado com semilhas”, favas de escabeche, pregos no bolo do caco, e sopa de trigo, acompanhado de poncha e “bebida de arraial” (vinho com laranjada).

A gestão do grupo folclórico não lhe paga um salário, mas “os sorrisos e o brilho nos olhos de quem vê e de quem participa” são, diz Maria, a “melhor paga”. O grupo actua em casamentos e baptizados, bem como num restaurante a norte de São Paulo, em São Roque, a Quinta do Olivardo, onde também se organizam vindimas e pisas de vinho. Neste restaurante há gastronomia madeirense, e diz Maria, “fizemos juntos as flores de arraial”.
A Maria é um doce – eu sei porque falei com ela. E tudo o que ela diz vem do coração, e é sentido. Como é sentido o amor e a estima que ela tem pela ilha e pelos seus habitantes. A herança, afinal, que recebeu dos pais.

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