As dificuldades económicas da Venezuela têm sido sentidas por todas as camadas da população, existindo bairros onde a alimentação é levada por equipas de voluntários. Os portugueses que vivem no país, cerca de 700 mil, também têm sofrido com a crise social e politica | REUTERS/HENRY ROMERO
Verbas são usadas para a promoção da língua e cultura nacional e também para ajudar cidadãos em dificuldades: desde a entrega de refeições até à compra de remédios, como na Venezuela
As associações de emigrantes recebem cerca de um milhão de euros por ano do Estado português para iniciativas de divulgação do idioma e da cultura nacionais. Verbas que agora também estão a ser canalizadas para a ajuda a cidadãos nacionais em dificuldades, seja através da compra de remédios por parte de instituições de solidariedade ou da entrega de refeições ou alimentos.
As dificuldades sociais que enfrentam os emigrantes, sobretudo de países que têm na venda de petróleo a sua maior fonte de rendimento, como Venezuela e Brasil, tem obrigado as associações a aumentar o apoio aos compatriotas mais carenciados. Um dos exemplos mais recentes aconteceu com o Lar Padre Joaquim Ferreira (em Caracas, Venezuela) que recebeu um apoio de 20 mil euros que deverá ser usado para comprar medicamentos e para a contratação de um médico permanente. Esta ajuda humanitária ganha importância em países que estão a sofrer um forte impacto devido à contínua baixa de preço do petróleo, e onde se estima que vivam cerca de 700 mil portugueses - 280 mil registados.
"Temos vindo a tomar um conjunto de medidas de apoio social para os portugueses que temos na Venezuela. Naturalmente destinados aos lares, onde estão os cidadãos mais idosos, mas estas instituições também prestam apoio alimentar a famílias. Tal como cuidados médicos, para garantir consultas aos que mais precisam", adiantou ao DN o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
O governante reconhece que a mobilização do Governo para ajudar os emigrantes que estão em países com maior instabilidade social e política é maior e garante que estão a ser tomadas medidas para minorar algumas dificuldades. Por exemplo, "somos o único país europeu que não aumentou os emolumentos consulares na Venezuela. Ou seja, um passaporte custa 75 euros para um cidadão de um qualquer outro país da União Europeia que ali está acreditado e nós temos a emissão do documento por 2,5 euros. Isto representa uma perda mensal na ordem dos 150 mil euros."
José Luís Carneiro elogia o trabalho que as associações de portugueses têm feito pelo mundo. "No Brasil há instituições que têm um apoio social a pessoas carenciadas, que visitam regularmente portugueses que estão em dificuldades e até os reclusos. Na Venezuela vi duas obras sociais de grande qualidade na resposta ao cidadão, nomeadamente aos idosos [Portugal tem o programa Apoio Social a Idosos Carenciados vocacionado para o apoio a cidadãos no estrangeiro]. E devo dizer que tenho visto nas comunidades um trabalho social que poucas vezes se vê com a mesma dimensão e qualidade em Portugal", frisou.
Cultura e desporto
Além deste apoio social, as associações de portugueses têm um papel que o secretário de Estado aplaude: "Algumas das atividades estão muito vocacionadas para as questões de cidadania e de identidade, seja nas canções ou até o folclore. Têm ainda o desporto e o ensino do português. Algumas associações desenvolvem a oferta da língua com o apoio do Instituto Camões que certifica os conteúdos, disponibiliza recursos pedagógicos e cede professores."