Marcelo Rebelo de Sousa beijou, abraçou, dialogou e até deu esmola. Demorou uma hora atravessar a Rua Dr. Fernão Ornelas até chegar ao Palácio do Governo. Marcelo furou o protocolo querendo atravessar a cidade a pé.

60minutosafectos

O Presidente da República é um homem de afectos. O povo sente-o e Marcelo corresponde a cada solicitação. Seja ela qual for e de onde vier. De crianças, de idosos, de homens e também de mulheres. De empregados e também dos desempregados. De emigrantes e de turistas, inclusive agentes da polícia. Até de sem-abrigos. Marcelo beija, Marcelo abraça, Marcelo dialoga, Marcelo vai a todas, e todos vão a Marcelo. Foi exactamente isso que o chefe de Estado viveu ontem nas ruas do Funchal, em especial nos 60 minutos volvidos à saída das renovadas instalações do DIÁRIO, onde quis assinalar a modificação das instalações.
Depois, bom... depois, bastou o Presidente colocar o pé na calçada portuguesa e já tinha algumas dezenas de madeirenses prontos para o saudar. Marcelo furou uma vez mais o protocolo querendo atravessar a cidade para poder chegar ao Palácio do Governo pelo seu próprio meio, onde presidiria, às 16 horas, à entrega das insígnias honoríficas às oito personalidades agraciadas pelo Executivo madeirense.
É absolutamente indisfarçável que Marcelo Rebelo de Sousa vive um autêntico estado de graça e as pessoas acham graça a Marcelo. Do alto de um prédio chegou a ouvir-se uma cidadã a gritar pelo nome do Presidente. E novamente, saiu mais um aceno acompanhado com o sorriso largo e espontâneo.
Mas foi nas proximidades do Largo do Chafariz, já sentado num dos bancos verdes da rua, que se viu o lado mais atencioso do Presidente. O chefe de Estado ouviu reclamações de duas mulheres reformadas e viúvas. Vivem nas zonas altas da capital.
Uma dessas pediu um arranjo de um muro que dificulta a passagem do autocarro dos Horários do Funchal. Marcelo ainda tentou ajudar. Olhou para onde estava Miguel Albuquerque, mas rapidamente deu-se conta que o problema era da autarquia liderada por Paulo Cafôfo: “Ah... mas isso é da Câmara. É a Câmara que tem de resolver”, reiterou para anciã, a mesma que também recriminara por descontar impostos altos e por não perceber por que razão a Segurança Social lhes paga pouco. “Tem de olhar pelos pobres”, exortava na direcção do professor.
Pelo trajecto, a comitiva ainda parou diante de uma barraca onde se vendiam cerejas. Miguel Albuquerque ainda não tinha seguido o exemplo de Marcelo com os tradicionais beijos do costume, e já perguntava: “São do Jardim da Serra? São as melhores e as mais gostosas”, dizia para Marcelo Rebelo de Sousa. Ireneu Barreto bem próximo da mais alta figura da Nação confirmava a declaração do governante madeirense.
“Estas aqui são do Jardim da Serra, e estas são do Fundão”, observava, dando a provar. Após degustar o fruto, Marcelo confirmou: “São muito, muito gostosas”, declinando comer uma espécie oriunda de Espanha.
No Apolo dirigiu-se a uma caixa de multibanco e levantou dinheiro. Já na Placa Central, nova paragem. Ali mesmo e já os convidados sentados no Salão Nobre esperavam a comitiva, um grupo de folclore quis cumprimentar Marcelo. Chegou-se a prognosticar que, para acabar em ‘beleza’, o périplo acabaria com um ‘bailinho da Madeira’. Mas não. Talvez para uma próxima. Assim queira e haja vontade do Presidente.
Marcelo elogia novos entendimentos
Depois de ter ouvido Miguel Albuquerque falar na importância da Revisão Político Administrativa, da entrega da candidatura da construção do novo hospital ao executivo de António Costa, de realçar o papel do Centro Internacional de Negócios, o Presidente da República afirmou que as “relações políticas são, antes de mais, relações pessoais e podem ajudar abrir caminhos e acelerar a resolução de problemas”.
Curiosamente, nem sempre a Madeira e Lisboa mantiveram relações tão ‘calorosas’, tal como nem sempre houve um entendimento tão simpático entre os executivos regionais e o da República. Pelo contrário. Em especial nos governos liderados por Alberto João Jardim e José Sócrates e, mais recentemente, com Pedro Passos Coelho.
Existiram diferendos de, cá para lá, e de lá para cá, com prejuízos claros na decisão de várias pastas que foram desbloqueados com a governação de Albuquerque.
Pela liberdade e pelo mérito
O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, focou no “mérito e na liberdade” as razões terem sido atribuídas as insígnias honoríficas a oito personalidades, seis delas a título póstumo. “Nelas agraciamos o mérito e a liberdade tantas vezes apregoados mas cuja preservação é cimento indispensável à nossa autonomia pelo respeito pela diferença e pelo pluralismo numa dialéctica democrática”, declarou na cerimónia.

in Diário de Notícias da Madeira