Uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia (‘Brexit’) poderá significar um agravamento da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, com consequências imediatas para os países mais vulneráveis, como Portugal. Para a economista Paula Gonçalves Carvalho, do departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, em caso de ‘Brexit’, numa primeira fase, “certamente a instabilidade nos mercados financeiros internacionais se agravaria”.
“Teria também consequências negativas a nível do crescimento económico, na medida em que é uma situação que suscita maior incerteza, podendo refletir-se negativamente sob o investimento, consumo privado e redução do comércio internacional”, considerou em declarações à agência Lusa.
Para Portugal, o impacto imediato na ótica da economista seria relevante, na medida em que o país continua vulnerável, dependente do setor externo para obter financiamento.
No que diz respeito ao médio prazo e às relações com o Reino Unido, Paula Gonçalves de Carvalho considera que “não ocorreria uma quebra imediata, mas certamente haveria alguma diluição do inter-relacionamento entre os dois países”.
“O Reino Unido é um parceiro histórico de Portugal, as relações e os laços são muito fortes”, lembra.
Surge também como destino preferencial de emigração portuguesa e talvez esta realidade seja a mais negativamente afetada com o novo quadro que os signatários do ‘Leave’ (saída) parecem pretender aprovar.
“Ou seja, o fluxo de emigração teria que encontrar alternativas; eventualmente, poder-se-iam registar alguns retornos (de emigrantes portugueses no Reino Unido), caso as condições para a população estrangeira se degradem de forma significativa”, disse ainda, ressalvando que o fluxo migratório mais especializado, de indivíduos mais qualificados, não deverá ser negativamente afetado.
Para Eduardo Silva, gestor da XTB, na Europa, a dimensão do impacto político, económico e social de uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia será “grande”.
“A capacidade de criar as primeiras fendas no projeto europeu não deverá ser desvalorizada, basta referir a intenção da Holanda e da Finlândia de avançar de imediato para referendos similares”, disse.
“A centralização do poder na Alemanha é outro fator de preocupação para os periféricos”, acrescentou.
Já para Portugal, segundo Eduardo Silva, perante um cenário de uma eventual saída do Reino Unido, outros países poderão seguir pelo mesmo caminho, fator que poderá gerar uma grande incerteza nos mercados e, por consequência, aumentar os juros da dívida, principalmente nos países periféricos que já se debatem com preocupantes rácios de endividamento.
“No curto prazo, o BCE poderá garantir alguma estabilidade, enquanto a política expansionista o justificar. Contudo, os países que não criarem uma base forte de crescimento neste período irão sentir dificuldades mais para a frente”, disse.
Eduardo Silva lembrou também, a propósito, que o Reino Unido tem uma história e geografia que torna os dois países fortes parceiros comerciais.
“A balança comercial beneficia Portugal, logo é uma preocupação para os exportadores e, consequentemente para o país, na medida em que terá impacto na economia nacional. Os acordos comerciais poderão ser restabelecidos, no entanto o impacto de uma crise no seio da União é a principal preocupação pelo efeito contágio”, referiu à Lusa.