Entre os milhões de europeus apreensivos com o desfecho do referendo no Reino Unido há muitas famílias portuguesas. Cerca de 130 mil madeirenses vivem ali. Os cidadãos comunitários residentes no Reino Unido não podem participar no ‘Brexit’, ou o referendo que tem lugar amanhã. Contudo, a escolha dos britânicos nesta quinta-feira – ficar ou sair da União Europeia – tem quase tudo a ver com eles, cidadãos estrangeiros. Entre esses há mais de 215 mil portugueses, dos quais perto de 130 mil são oriundos da Madeira.

130mil madeirenses com medo
“Por muito estranho que pareça, muitos portugueses desejam a saída da União Europeia”, confidenciava ontem ao DIÁRIO o empresário Pedro Fernandes, a viver há mais de 20 anos em Londres. “Nunca sentimos qualquer tipo de discriminação, mas agora há um receio muito grande em relação ao que acontecerá com a entrada dos novos países na Comunidade Europeia. Em especial da Turquia, com 80 milhões de pessoas.”
Visto de fora, a grande decisão do Reino Unido tem o único foco nas regras a impor aos imigrantes, seja qual for o desfecho do Brexit. “Pode demorar algum tempo, mas vamos começar a sentir discriminação, especialmente quando formos aos hospitais e aos serviços de assistência social, nas escolas”, antecipa Pedro Fernandes. “Os que têm negócios também terão mais dificuldades. De um modo geral significa que o país irá fechar-se aos imigrantes afectando e piorando bastante a nossa qualidade de vida.”
A verdade é que, no final de negociações duríssimas, em Fevereiro os líderes europeus chegaram a um acordo relativamente às exigências apontadas pelo primeiro-ministro inglês, nomeadamente na limitação do acesso dos cidadãos europeus aos apoios sociais em vigor no Reino Unido. Um passo atrás, desconcertante, que pôs em causa um dos grandes pilares do ‘mercado único’: a livre circulação de pessoas.
Mesmo assim o Reino Unido avançou com o referendo à integração na União Europeia – que tem lugar amanhã – unicamente por questões que têm a ver com históricas discussões internas. David Cameron, primeiro-ministro inglês, e alguns importantes membros do seu Executivo, são os principais defensores da manutenção na União Europeia; com a cedência de Bruxelas em Fevereiro último, o governo de Cameron achou que era a altura certa para auscultar a opinião dos britânicos.
A dois dias do referendo, nenhuma das partes tem a certeza de nada. Do lado dos defensores do ‘Brexit’, argumenta-se que a saída permitiria ao Reino Unido poupar muitos milhões de libras para gastar na melhoria do serviço nacional de saúde, nos outros apoios sociais e na educação, já que os ingleses estão entre os maiores contribuintes líquidos da União Europeia.
O dilema adensa-se da perspectiva social à económica, com muitas dúvidas a emergirem a cada dia que passa. As consequências demorarão a passar, seja qual for o resultado a anunciar a partir da madrugada de sexta-feira. Por parte do resto da Europa, será também hora de juntar os cacos.

CRISTINA PEDRA: UE VAI DAR A VOLTA POR CIMA

A presidente da ACIF-Câmara de Comércio e Indústria da Madeira defendeu que a União Europeia “vai dar a volta por cima”, independentemente do resultado do referendo de amanhã.
“A União Europeia há-de dar a volta por cima, com ou sem o Reino Unido”, disse Cristina Pedra na abertura de um seminário promovido pela ACIF. Cristina Pedra adiantou que “se é verdade que, em 2013, esta linha (a realização de um referendo sobre o chamado ‘Brexit’) permitiu a David Cameron manter a sua vantagem política, foi aberta a caixa de Pandora”.
A presidente da associação empresarial madeirense sublinhou que todos temem o desconhecido e que “afiguram-se grandes prejuízos, em primeiro lugar económicos e financeiros, quer para Portugal, quer para o Reino Unido se existir o ‘Brexit’”. A dirigente associou ainda o problema dos refugiados.

in Diário de Notícias da Madeira