A organização portuguesa ‘Girl MOVE’, que potencia o talento e a liderança feminina em Moçambique para quebrar o ciclo de pobreza, recebeu, a 15 de outubro, o prémio UNESCO para a Educação de Raparigas e Mulheres 2021.
Com este prémio a agência das Nações Unidas reconhece internacionalmente a metodologia da ‘Girl MOVE’ como inovadora e eficaz, que através de círculos de mentoria intergeracionais potenciam o talento e a liderança feminina sendo considerado um movimento transformador que junta jovens mulheres de diferentes idades e em distintas fases de desenvolvimento para se inspirarem, apoiarem e transformarem mutuamente.
A ‘Girl MOVE’, criada em 2014, tem o seu espaço em Nampula, norte de Moçambique, contribuindo no combate aos reduzidos níveis de escolaridade entre a população feminina, sendo agora a primeira organização portuguesa a ser distinguida com o Prémio da UNESCO – para a Educação de Raparigas e Mulheres 2021.
Para Alexandra Machado, presidente executiva e cofundadora da ‘Girl MOVE’, a atribuição do Prémio da UNESCO é o reconhecimento de que o trabalho desenvolvido está no caminho certo, criando impacto e transformação real na sociedade.
“Ativar o talento e a liderança desta nova geração torna-nos parte de uma missão maior de transformar Moçambique, África e a humanidade num lugar melhor e mais sustentável”, frisou.
Em Moçambique cerca de 45% das raparigas casam ou engravidam antes dos 18 anos, 31% transitam para o ensino secundário e apenas 2% completam a universidade.
Com a sua intervenção a ‘Girl MOVE’ tem vindo a inverter esta realidade e já contribuiu para transformar a vida de milhares raparigas e jovens mulheres em Moçambique.
De acordo com a organização, depois da frequência universitária, cerca de 100% das jovens licenciadas que passaram pelo programa conseguiram em menos de três meses ingressar numa carreira de impacto, e 90% das raparigas adolescentes transitaram para a escola secundária em contraponto com os 30% a nível nacional.
Em declarações à agência Lusa, Marta Figueiredo, diretora da ‘Girl MOVE’, explicou que todos os anos são abertas duas mil candidaturas para jovens licenciadas, sendo selecionadas 40 que fazem depois um percurso de liderança e inovação social.
Cada uma destas 40 jovens terá a seu cargo um grupo de 30 ou 40 adolescentes com quem se encontram duas vezes por semana para, como mentoras, serem uma inspiração e uma referência que mude o paradigma num país com elevada taxa de abandono escolar.
“O ciclo de pobreza planeado tem a ver com a falta de referência que lhes permitam sonhar um futuro diferentes e o que estas raparigas mais velhas trazem é essa mudança radical através do exemplo”, explicou.
Marta Figueiredo adiantou que a academia da ‘Girl MOVE’ já formou mais de 150 jovens que o projeto acredita que vão contribuir para uma mudança em Moçambique nos próximos 10 anos.
Ao longos dos oito anos de existência, salientou, já usufruíram também deste projeto mais de cinco mil raparigas.
O Prémio UNESCO para a Educação de Raparigas e Mulheres homenageia contribuições notáveis e inovadoras feitas por indivíduos, instituições e organizações para promover a educação de raparigas e mulheres. É o primeiro Prémio UNESCO desta natureza e é único a distinguir projetos de sucesso que melhoram e promovem as perspetivas educacionais de raparigas e mulheres e, por sua vez, transformam a qualidade das suas vidas.