Na passada sexta-feira, dia 4 de março, foi editada a última edição do jornal Mundo Português, um marco na imprensa portuguesa para as Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
A morte do proprietário do jornal, Carlos Morais, com apenas 58 anos de idade, em julho de 2018, num acidente de viação, foi certamente o fator mais importante para o fim deste “monumento” da imprensa para as Comunidades.
O jornal O Emigrante – que mais tarde se tornou jornal Mundo Português – foi fundado em 1970 pelo pai de Carlos Morais, Comendador Valentim Morais, juntamente com o Padre Vítor Melícias.
Num texto publicado nesta última edição do jornal, é precisamente lembrado o trabalho de Carlos Morais à frente da publicação, “o homem que soube sonhar e se tornou um nome incontornável na área da presença de Portugal no Mundo, vocação que abraçou de forma única quando assumiu a direção do jornal”.
Ainda citando o mesmo texto da redação do jornal, é escrito sobre Carlos Morais que, “com a sua ação, ultrapassando em muito a área da comunicação social, criou um projeto de comunicação global, pioneiro em Portugal e no mundo, com o qual desenvolveu diversas vertentes de valorização do cidadão português residente no estrangeiro, como cidadão, empresário, turista, profissional e investidor” fazendo referência ao salão agroalimentar Sisab, aos Encontros empresariais, aos Encontros de turismo, aos Encontros de Jovens, aos Encontros de lusoeleitos, que o jornal também organizava.
“Ao longo de meia centena de anos o jornal ‘Mundo Português’, inicialmente ‘O Emigrante’, foi um companheiro constante na vida de milhares de portugueses um pouco por todo o mundo que reconheceram nele muito mais do que um simples órgão de informação” escreve a atual Diretora, Maria Morais. “Daí ter-se transformado numa verdadeira instituição na vida dos portugueses ao longo destes 50 anos”.
Maria Morais explica que, ao ter de assumir a Administração do jornal “corajosamente insistia em ‘remar contra a maré’ e contra a lógica comercial destes novos tempos”.
“Quase de repente as novas gerações refugiavam no digital a sua pouca apetência para a leitura e para o contacto com a letra impressa. A tentação era grande, enquanto o digital prometia uma enorme difusão, praticamente ‘sem custos’, a imprensa convencional debatia-se permanentemente com uma estrutura de custos que não parava de crescer” escreve a Diretora.
“A publicidade refugiou-se igualmente no digital e os jornais viram-se ‘à beira do sufoco’ por falta de verbas verdadeiramente indispensáveis à sua sobrevivência. Estava a ser criada a ‘tempestade perfeita’. A transferência de leitores e a falta de publicidade levaram inevitavelmente ao desaparecimento de inúmeros títulos, tanto em Portugal, como no estrangeiro. O ‘Mundo Português’ ia andando, apoiado na lealdade e amizade de muitos dos seus leitores e à abnegação de uma administração que via no jornal uma causa para além do projeto comercial. Mas não podia ser uma solução para o futuro”.
Esta foi a primeira vez que Maria Morais escreveu no jornal. Agradeceu a toda a equipa “que ao longo destes 50 anos contribuíram para este projeto, dignificando assim a história de um povo e da sua língua”, e aos assinantes, que diz terem sido a “alma mater” do jornal.
Com o fim do jornal Mundo Português, as Comunidades portuguesas no estrangeiro ficaram bem mais pobres.