Ana Gonçalves é enfermeira na Unidade de Cuidados Intensivos no Victoria Hospital em Blackpool, é um dos heróis no combate à Covid-19 e relatou-nos um trabalho “física e psicologicamente muito complicado”.

Enfermeira

Ana Gonçalves é natural do Funchal, vive em Blackpool, e já lá está há mais de 7 anos. Na altura não encontrava trabalho na Madeira e decidiu emigrar. “Estou a trabalhar nos cuidados intensivos e tenciono ficar”.

A enfermeira que está na linha da frente do combate a esta pandemia detalhou-nos como é a unidade onde trabalha. “A unidade no Blackpool Victoria Hospital, são os cuidados intensivos cardíacos”, que devido à propagação do contágio “foi convertida em unidade de cuidados intensivos da Covid-19, para termos mais capacidade de resposta”. O número de camas foi alargado. “Com os cardíacos trabalhávamos com 20 camas e agora estendemos para 40”.

 

Experiência marcante

A enfermeira madeirense explicou-nos uma experiência que a marcou profundamente. “Eu nunca mais me vou esquecer disto, eu tive um doente que entrou no nosso serviço, consciente e acordado”. Doente esse que teve que ouvir: “você tem covid, vai para os cuidados intensivos”. Ana Gonçalves lamenta: “Eu olhei para esse senhor e ele quase que chorava”, descrevendo-nos o ambiente dentro da unidade. “Aquele senhor entrou, viu um número de doentes entubados, ligados ao ventilador, nós todos equipados”, o que fez com que ficasse “muito assustado e ansioso”. A enfermeira explica-nos que esta doença “afeta e deteriora as pessoas muito rapidamente”, o que levou a que o doente fosse entubado “num espaço de meia hora e ligado ao ventilador”.

Ana Gonçalves confessa a dificuldade que é dizer ao doente: “Vamos ligá-lo ao ventilador e ter que pô-lo a dormir. Quer ligar a alguém da família?”. Algo que para a madeirense “é psicologicamente duro para o doente, mas para nós também”.

A enfermeira confessa-nos que “das primeiras vezes, quando cheguei a casa e tive que lidar com esta situação no dia-a-dia, eu chorei”. Ainda assim, “sabia que o meu dever foi cumprido, que fiz a minha parte naquele turno”.

In «JM»