A Madeira aposta forte na conquista do estatuto de pólo de investigação para projectos europeus ao nível das áreas do mar e da saúde, aproveitando os recursos naturais da ilha. A ideia, apresentada por Miguel Albuquerque, ontem, em Bruxelas, em plena Comissão Europeia, foi elogiada pelo Comissário Europeu, Carlos Moedas, que tem a pasta da Ciência, Inovação e Investigação, e prometeu colaboração para dar vida ao desejo do Governo Regional.

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“Estamos a tratar disso neste momento”, frisou Albuquerque, em declarações exclusivas ao DIÁRIO, no gabinete do próprio Comissário, em Bruxelas. O governante aludiu, no entanto, para o caminho que já está a ser percorrido actualmente. “Já temos o mar com duas áreas em grande desenvolvimento e julgo que os madeirenses ainda não se aperceberam disso. Dentro da estratégia do mar temos uma empresa já sediada que faz extracção de produtos das algas, temos outra que trabalha produtos terapêuticos na área das algas. Temos ainda a maricultura, onde somos os mais avançados ao nível do território nacional. E temos o registo de navios, que também é fundamental na nossa estratégia”, enumerou.
O objectivo passa agora por “criar parcerias com centros de investigação mundial que possam colaborar no cluster do mar ao nível de produtos médicos, alterações climáticas, energia, robótica, todas as áreas do mar que é um dos recursos menos utilizados do planeta.” Desiderato que se afigura “importante para os investigadores madeirenses e a própria Madeira”. “Para a Região se constituir num pólo de investigação a vários níveis, porque a ciência não tem nacionalidade, temos de encontrar parceiros”, referiu, dando como bom exemplo o M-ITI no que toca ao espaço regional.
Miguel Albuquerque, refira-se, foi recebido ontem por Carlos Moedas ao final da tarde. Um reencontro, pouco tempo depois do próprio Comissário ter estado na Região a verificar ‘in loco’ o potencial da ilha para os três vectores do paradigma que implementou no programa Horizonte 2020: Ciência Aberta, Inovação Aberta e Abertura ao Mundo.
O líder do Governo Regional aproveitou o facto de amanhã liderar as conversações com Jean Claude Juncker no âmbito da reunião que envolve as Regiões Ultraperiféricas, que preside nesta altura, e quis dar sequência à visita do Comissário Europeu à ilha.
Recordou que Moedas teve “ocasião de constatar um conjunto de acções na área da ciência e da investigação” que diz não serem consequência da sua acção, “mas sim do ambiente que se pode criar para ter um núcleo importante de investigadores e cientistas que desenvolvem o seu trabalho e potenciam a economia da Madeira.”
Enunciou como bons exemplos de inovação o facto de “uma empresa da Madeira, a partir da Ribeira Brava gerir 500 mil estacionamentos em Espanha, fazer a alocução de um portal que é enorme sucesso para a prescrição médica”, mas também distinguiu a empresa Insular de Moinhos, constatando que “os produtos que está a exportar são aqueles que são diferentes, alguns dos quais desenvolvidos por químicos e biólogos da universidade da Madeira”.
Miguel Albuquerque, ao lado de Carlos Moedas, indicou que o futuro da Madeira passa por antecipar e perceber qual o mundo que está a ser criado. “Daqui a 20 anos já vai existir a chamada inteligência artificial. Hoje em dia a tecnologia é um adjuvante da mente humana e com a inteligência artificial a própria máquina já conseguirá efectuar raciocínios evolutivos, juízos de valor e criatividade”, referiu com a concordância de Moedas.
Entende, por isso, que a Madeira “tem de diversificar a sua economia e criar, num espaço que fisicamente é periférico, as conexões e os custos digitais para poder ser uma região central se tiver bons investigadores e uma boa linha de ciências”.
O facto do cabo submarino que pretende aproveitar ter sido chumbado pelo governo regional antecessor, como o DIÁRIO revelou ontem, não o preocupa. “Li o DIÁRIO, mas o que se passou há uns anos não sei. Eu, enquanto presidente do Governo, tenho de estar atento à realidade que existe. Qualquer pessoa de bom senso aproveitaria essa possibilidade de ter um cabo submarino para uma segunda ligação digital, porque tratam-se de acessos e comunicações, porque hoje os acessos não se resumem a estradas e aeroportos.”

Carlos Moedas exalta “potencial extraordinário” da ilha

n Carlos Moedas fez questão de valorizar a visão do Governo Regional ao nível das pastas que detém na Comissão Europeia. “Tenho muito gosto em receber aqui o senhor presidente, depois de uma visita extraordinária que fiz à Madeira e em que vi a visão que tem em relação à inovação e à ciência. Tenho dito que a visão do presidente do Governo Regional da Madeira é algo que não tenho visto muito na Europa, nomeadamente quanto à sua focalização em fazer da Madeira uma região da inovação e da ciência.”
O Comissário valorizou os exemplos que encontrou na visa à Madeira, que “consegue ter um pólo de inovação único, e vi vários exemplos disso, nomeadamente o M-ITI que é um exemplo extraordinário de como pensar a inovação de forma diferente.”
Sobre a reunião de ontem, revelou que teve por base dar o “passo seguinte àquilo que falamos, de ver como a Europa pode ajudar mais e como é que podemos ter também maior interacção com os investigadores, universidade, laboratórios da Madeira”, pois classifica o potencial da região como “extraordinário”. “Apesar de ser uma região que está na periferia, hoje em dia, com o mundo digital e com a visão do senhor presidente, está no bom caminho para ser uma região da inovação e da ciência”, acrescentou, elucidando que foram abordadas nas conversações “as vantagens competitivas da Madeira em relação ao mar, quais os projectos em que possa estar também ligada de melhor forma em termos digitais, e novamente o projecto dos cabos submarinos”. “Estivemos a fazer aquilo que muitas vezes não se faz na política, que foi após uma visita dar continuidade às ideias partilhadas”, concluiu.

in Diário de Notícias da Madeira