A Associação Museu do Cavaquinho quer inscrever a pratica do cavaquinho no património nacional e a primeira meta é reunir todo o trabalho de investigação, que passa pela inventariação e por entrevistas de carácter antropológico a construtores.
No país há 32 conhecidos, 160 grupos e uns 3.400 praticantes que continuam a manter o instrumento vivo, revelou Júlio Pereira, presidente da associação. Neste projecto de dar nova vida foi criada uma exposição itinerante. ‘70 Cavaquinhos, 70 Artistas’ chegou hoje ao Funchal. Está patente ao público até 30 de Abril e inclui trabalhos das madeirenses Luz Henriques, Helena Berenguer e Carla Cabral.
A exposição nasceu de uma ideia de Júlio Pereira. “O nosso país é riquíssimo no que toca ao universo do cavaquinho. Este universo da Madeira, conjuntamente com tudo o que está a acontecer no continente, já de há não sei quantos anos para cá, merecia que tudo fosse investigado, ou seja que começasse a ser feito de novo ou, se quer, pela primeira vez.
Neste momento estão cerca de 160 grupos inventariados na Madeira e continente. Nos Açores a prática não está tão viva. Mas já lá descobriu dois construtores na Ilha das Flores e acredita que no outro arquipélago a prática poderá ser retomada no futuro. Por cá são dois também: Carlos Jorge e Miguel Moniz, os únicos mestres violeiros na Madeira.
Roberto Moritz é um dos que lutam contra o desaparecimento do instrumento, aqui chamado de braguinha. Vai gravar um disco com o apoio da Associação Museu do Cavaquinho, com reportório dedicado ao pequeno cordofone. Foi para isso que criou o Quarteto Moritz. Estão na fase dos preparativos, a fazer arranjos e a criar reportório.
O acto de divulgar, disse, é importante, é preciso mostrar o instrumento, quer na exposição, quer em actuações, reforçou o músico e professor de cordofones. Divulgar o braguinha na Madeira “tem sido trabalhoso. É um trabalho contínuo”, através de concertos, workshops e da própria educação nas escolas do 1.º ciclo. O bom é que já se começam, a ver resultados. A exposição e o disco são exemplos disso.
Helena Berenguer aceitou o desafio de intervir artisticamente num braguinha. Ficou surpreendida e lisonjeada com o convite da Associação e respondeu usando cor, escrita e colagem. “Foi um desafio muito interessante porque acabei por me expressar também”. Acabou por deixar a sua marca, a sua identidade no instrumento. No fim confessa que não lutou para ficar com ele. “Eu não crio muito apego às coisas que faço por que eu digo sempre que sai uma peça é um espaço que eu deixo para criar outras novas e eu gosto desafio constante de criar e de fazer outras coisas”.
Luz Henriques também disse sim e o seu maior desafio foi mais técnico porque teve de arrumar o seu registo habitualmente de maior dimensão num espaço pequenino. “Mas depois achei que o desafio foi superado e o resultado foi fantástico”, acredita a pintora, disponível para apoiar iniciativas nesta área. “Adiro sempre a projectos culturais de excelência, como é o caso, e porque também nutro muita simpatia pelo trabalho do Júlio. E porque foi um desafio pintar noutros suportes que não a tela”.
‘70 Cavaquinhos, 70 Artistas’ chama a atenção para a causa e tem-se mostrado ser incrivelmente importante. Madalena Nunes contou que há muito que ansiavam esta exposição e que para a CMF “é um bom investimento” apostar na Cultura. “Trabalhar sobre as coisas da Cultura de um país faz-nos conhecer melhor a nós próprios como pessoas, com esta nacionalidade, com estes costumes e faz-nos também estabelecer as diferenças com outros países, outras culturas, mas ao mesmo tempo estabelecer as pontes com esses outros países e essas outras culturas”, disse a vereadora.
Em mãos a Associação tem também um livro, uma publicação com o estudo de Jorge Dias feito há 70 anos que mostra a ligação ao Brasil através do instrumento. Nesta primeira etapa estão a procurar o país tem. “Para mostrar aos outros, temos de saber quem somos. O trabalho estava todo por fazer, por inventariar, por documentar”, disse Júlio Pereira, um dos grandes impulsionadores do cavaquinho na actualidade.