O Governo do Reino Unido apresentou o seu plano para regular e reduzir a imigração após o 'Brexit', um sistema baseado nas qualificações dos candidatos e que acabará com a livre circulação de europeus no país.
Perante os deputados, o ministro do Interior, Sajid Javid, anunciou a entrada em vigor de «um sistema de imigração único, baseado nas qualificações».
«No futuro, toda a gente, à exceção dos cidadãos britânicos e irlandeses, precisará de autorização para poder vir para cá», disse Sajid Javid.
Sublinhou que este novo sistema acabará com a livre circulação de cidadãos europeus no Reino Unido, mas dirigiu uma mensagem aos três milhões de europeus já instalados no país: «Queremos que fiquem e protegeremos os vossos direitos».
As novas regras de atribuição de vistos darão prioridade a pessoas com competências de que o Reino Unido tenha necessidade.
Javid adiantou que não haverá limite para o número de trabalhadores qualificados que poderão entrar no Reino Unido, mas que estes terão de ter um nível de salário mínimo que poderá ser estabelecido em 30 mil libras anuais (mais de 33 mil euros).
Será também criado um dispositivo especial para o recrutamento de trabalhadores temporários não qualificados, sendo que estes «não terão acesso» a prestações sociais.
Este dispositivo visa responder às inquietações do setor agrícola britânico, muito dependente de trabalhadores estrangeiros.
Também não «haverá limite ao número de estudantes internacionais» que serão acolhidos no Reino Unido, precisou Sajid Javid, que expressou a ambição do seu governo de «facilitar a instalação e a contratação de jovens diplomados».
O ministro britânico anunciou ainda a intensão de colocar o saldo migratório num nível considerado «viável», mas não precisou um valor.
O programa do Partido Conservador, que governa no Reino Unido, prevê reduzir para menos de 100 mil os imigrantes anuais, contra os 280 mil que entraram no país em 2017.
De acordo com Sajid Javid, o novo sistema deverá ser implementado por fases a partir de 2021, ou seja, após o período de transição pós-'Brexit' previsto no acordo concluído entre Londres e Bruxelas, que ainda tem de ser ratificado pelo parlamento britânico.
A proposta conservadora suscitou várias reações, com a CBI, a principal organização patronal britânica, a expressar preocupação de que as novas regras venham a reforçar «a já gritante falta de pessoal» nos setores da saúde, construção e distribuição.
O sistema público de saúde do Reino Unido, que emprega milhares de trabalhadores estrangeiros, teme dificuldades em conseguir recrutar se o nível mínimo de vencimento para os imigrantes for fixado em 30 mil libras (33 mil euros).
«Competências elevadas não são sinónimo de salários elevados», disse um dos diretores do NHS, Saffron Cordery.
«O salário inicial dos enfermeiros é de 23 mil libras, o dos médicos juniores de 27 mil libras e o dos auxiliares de ação médica é de 17 mil libras», disse.
A presidente da praça financeira da City de Londres, Catherine McGuinness, saudou a decisão de não estabelecer um teto ao número de vistos a atribuir em cada ano.
A imigração foi um dos temas no centro da campanha no referendo sobre o 'Brexit', em 2016.