Interesses pessoais, o desejo de gerir o próprio negócio, mas também de promover a cultura e produtos portugueses, estiveram na origem de três projetos empresariais no Reino Unido, revelaram os respetivos fundadores.
A Portuguese Love Affair é uma loja de produtos alimentares e de design na capital britânica, The Portuguese Conspiracy organiza eventos de gastronomia, cinema e música e tem uma loja de vinhos online e a Miúda Books é uma livraria infantil na Internet.
Reunidos num workshop sobre empreendedorismo promovido pela Associação dos Estudantes e Investigadores Portugueses (PARSUK na sigla inglesa), na terça-feira, na University College London, os empresários falaram das suas motivações.
Para Carla Cruz, que chegou a Londres para fazer um doutoramento em artes visuais, foi o nascimento da filha em 2012 que fez surgir a ideia de criar a Miuda Books por sentir dificuldade em ter acesso a livros infantis em português.
“Tinha de esperar que alguém trouxesse ou negociar espaço na mala entre os salpicões e o vinho”, gracejou.
Começou com poucas editoras, agora tem parceria com cerca de 30 e um catálogo de 200 títulos para crianças dos dois aos 13 anos, tendo recentemente começado a apostar no público brasileiro.
Porém, admitiu, a loja é como um passatempo pois, além da atividade de artista, é investigadora e professora académica, deixando-lhe pouco tempo.
“O desafio é que as editoras não trabalham à consignação, tenho de comprar tudo e tenho dificuldade em investir para aumentar o leque de livros e em marketing”, reconheceu.
TPC – Eventos gastronómicos
Para os cofundadores da plataforma The Portuguese Conspiracy (TPC), que surgiu em 2013, as motivações foram diversas.
Rita Maia, formada em gestão mas ligada à organização de eventos, referiu que a dificuldade em encontrar um emprego satisfatório no regresso a Londres levou ao passo de promover eventos gastronómicos que incluíssem música e arte.
Rapidamente o projeto evoluiu para projeções de cinema, concertos de música e, poucos meses depois, uma mercearia, que entretanto fechou.
“A renda triplicou e não pudemos aceitar as condições. As rendas e os serviços em Londres são muito caros”, admitiu.
Ao contrário de Carla Cruz, José Cardoso, formado em design de equipamento e cofundador da TPC, encontrou em alguns fornecedores portugueses “disponibilidade para fazer as coisas de maneira diferente e facilitar a colocação de material e produtos”.
“O maior desafio é chegar às pessoas, ter uma audiência e um modelo de negócio”, confiou, admitindo que não esperava que tantos jovens recém-imigrados se identificassem com o projeto, que era sobretudo direcionado para um público não português.
The Portuguese Love Affair aposta no design
Olga Cruchinho, formada em comunicação e antiga professora, e Dina Martins, artista gráfica, são amigas de infância e sócias na loja The Portuguese Love Affair, a concretização de um desejo de voltar a gerir um negócio juntas, como tinham feito em Lisboa.
Conseguir um espaço físico na capital britânica foi difícil, confirmaram, mas vincaram que a localização tem sido crucial para o estabelecimento, aberto há quase três anos.
Situada em Columbia Road, numa rua de pequenas lojas de produtos artesanais e onde se realiza todos os domingos um mercado de flores, tem uma clientela maioritariamente não portuguesa.
“É difícil perceber as burocracias, como os impostos, mas é fácil criar uma empresa”, disse Dina Martins.
Quanto ao desempenho da loja, Olga referiu que “o produto português vende porque as pessoas têm confiança na qualidade”, mas que este “tem de ter uma história, uma roupagem, que é o design”.
A dificuldade de vender produtos portugueses em Londres
Os seis concordaram que vender produtos e promover eventos culturais portugueses nem sempre é fácil em Londres, mas que esta realidade tem vindo a mudar porque cada vez mais britânicos conhecem ou querem saber mais sobre Portugal.
A vantagem destes pequenos negócios, disseram é que os produtos e fornecedores derivam de preferências pessoais.
“Permite personalizar a compra e venda, essa é a mais-valia”, resumiu José Cardoso, para quem estes pequenos negócios portugueses não têm aspiração a grandes receitas, mas existem como uma forma de “coçar uma comichão”, a de promover Portugal.