«É algo que nos está na alma», salienta o padre Leandro Garcês, que acompanha a maior comunidade lusa em Paris»
Lisboa, 14 ago 2018 (Ecclesia) – A vivência da fé católica continua a ser uma grande “âncora” na vida das comunidades portuguesas na diáspora, não só em termos de apoio e subsistência mas também no que diz respeito à integração e ao encontro com outras culturas.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre Leandro Garcês, atualmente à frente da Paróquia Portuguesa de Gentilly, a maior comunidade lusa católica da região de Paris, em França, destaca um fator que tem contribuído ao longo de gerações para a afirmação e manutenção da “alma portuguesa” lá fora.
Desde os anos 60 do século XX, quando seguiu a primeira grande vaga para terras gaulesas, até ao tempo presente, com especial enfoque na devoção a Fátima.
“A terceira e quarta geração já tem muita dificuldade em falar português, falam mas com muita dificuldade, já é uma outra geração, digamos franco-portuguesa, mas a alma da religiosidade, que se prende a Fátima, esta dimensão da religiosidade popular, está na alma do povo português”, salienta o sacerdote.
Desde há 30 anos foi confiada a esta paróquia portuguesa a tarefa de zelar e dinamizar o Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Paris.
Um local de culto que, recorda o padre Leandro Garcês, estava votado ao abandono, com a igreja ocupada por pessoas sem-abrigo, “condenada à destruição”, e que agora tem vindo a ser dinamizado.
“Para os portugueses que estão na diáspora, sem dúvida que Fátima é o centro, conduz um bocado a vida, seja espiritual, a vida no seu todo, a Senhora de Fátima é tudo”, salienta o sacerdote, adiantando que ainda por estes dias, “uma grande multidão de peregrinos de Paris” esteve em Portugal a participar na peregrinação internacional dos dias 12 e 13 de Agosto, na Cova da Iria.
A vitalidade da Paróquia Portuguesa de Paris é atestada por exemplo pelas mais de 800 crianças que ali frequentam atualmente a catequese.
“A questão religiosa une bastante, e os portugueses vivem sempre à volta de duas ou três coisas: a dimensão religiosa, a Igreja, o clube no sentido de associação, da dimensão de associação, e depois o próprio bairro ou lugar onde se encontram”, sublinha o padre Leandro Garcês.
Numa terra distante, a vivência da fé católica é para muitos portugueses um porto de abrigo mas também uma ponte para o encontro com a sociedade local, e com outras culturas.
Como destaca o padre Manuel Fontes de Sousa, atualmente à frente da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, em Turlock, na Califórnia, Estados Unidos da América.
Um emigrante em território americano há mais de 50 anos, proveniente da Ilha de São Jorge, nos Açores.
“Há o perigo de uma paróquia portuguesa no estrangeiro tornar-se um enclave fechado em si próprio, mas nós devemos ter aquela dimensão do reino de Deus que abarca todos os homens e todas as culturas”, defende o sacerdote.
Para esta paróquia, isto tem implicado a aposta em atividades que “atraiam a comunidade em geral, católica e não só, com a dimensão de sair”, com especial atenção ao “encontro com os pobres”.
As expressões de religiosidade popular, as procissões em honra de Nossa Senhora da Assunção e de Nossa Senhora de Fátima, são momentos importantes da vida da comunidade.
“Vivemos a nossa fé de uma forma bastante tradicional, somos uma paróquia que tem duas missas em inglês e duas missas em português ao sábado e ao domingo. Mas o lado mais americano da paróquia não se gosta de envolver muito nestas coisas. Os americanos não gostam de procissões, mas respeitam”, completa aquele responsável.