A Emigração é um tema que toca a toda a região, e, a freguesia dos Canhas, tem também o seu papel nesse factor.
Para o habitante dos Canhas, é normal ter família e(i)migrada, ou ter tido. Há algumas décadas para cá, esta foi a única solução viável, para quem queria construir uma vida melhor, numa terra mais próspera. Países como a Venezuela, França, África do Sul, Brasil, Curaçao, entre outros, foram os destinos de muitos canheiros e canheiras, que mudaram a sua vida por completo, em busca de novo alento.
Como conterrâneo, gosto de conversar com pessoas com mais vida e experiência do que eu, e, não são raras as vezes que me deparo com histórias de prosperidade e bonança, riquezas, trabalho árduo e muito sacrifício. Estas são as características que mais marcaram todos/as aqueles/as que se arriscaram, por uma vida melhor, à mercê da sorte e do desconhecido. É comum ouvir: “muitas das casas que tu vês hoje nos Canhas... muitas destas casas foram erguidas com o sacrifício dos que partiram para outro país, trabalhando horas a fio, com sacrifício, mas ganhando o seu bom dinheirinho, para um dia voltar à sua terra.”
E não são apenas casas. São empresas, investimentos que foram montados após o regresso de muitos. É comum ver um café, restaurante, cabeleireiro, empresa de construção, entre outras, e escutar: “aquela pessoa trabalhou anos a fio em tal país, regressou e abriu o seu próprio negócio”. E se não foram os donos que emigraram, foram os pais dos donos, os tios dos donos, os avós dos donos. Ainda não conheci um/a canheiro/a, que me dissesse não ter historial de e(i)migração, na sua família.
Estas palavras fazem-me sorrir. Quem regressou, notou o crescimento desta terra. Quem parte, leva consigo a esperança de um dia voltar, mas sabendo que, no futuro, os seus filhos podem seguir o mesmo caminho.
E não é necessário recuar tanto no tempo. Um destes dias, olhava para uma foto da minha turma do 4º ano, do ensino primário, e, das 21 caras ali presentes, pelo menos 10, sei que residem e têm uma vida completa no estrangeiro. Os destinos são outros. Inglaterra, as Ilhas do Canal (Guernsey e Jersey), Espanha, Alemanha, Estados Unidos, entre outros, são hoje alguns dos destinos, desta nova vaga de emigrantes. As características mantêm-se: bom dinheiro, prosperidade, mas muito sacrifício e trabalho árduo. Os sonhos também se mantêm: um dia poder voltar, quem sabe fazer casa e estabelecer definitivamente, na sua terra natal.
Mas não é só esta nova vaga de emigrantes, que redefine a história desta terra. A população dos Canhas está a crescer, são muitos os que regressam, por já terem condições para tal, mas, na sua maioria, os que abandonam terras que um dia foram de muita prosperidade, como a Venezuela e o Brasil, que agora atravessam graves crises, fazendo com que muitos/as sejam obrigados/as a abandonar uma vida completa e estabelecida. Uma prima minha, chegada há meses, já reencontrou vários amigos/as da Venezuela, na escola. Um tio meu, também regressado na mesma altura, confidenciou-me, um destes dias: “nunca imaginei ver esta terra tão desenvolvida, como está... Parti por obrigação, regressei por obrigação, mas os Canhas, hoje, é uma autêntica cidade.”
Estas palavras fazem-me sorrir. Quem regressou, notou o crescimento desta terra. Quem parte, leva consigo a esperança de um dia voltar, mas sabendo que, no futuro, os seus filhos podem seguir o mesmo caminho.
Esta freguesia ergueu-se com gentes que por cá permaneceram, e gentes que trabalharam além-mar. São casas, empresas, mas também culturas, tradições e costumes. O que veio de fora engrandeceu os Canhas, e continuará a engrandecer. Mas não nos esqueçamos, quem parte, leva um pouco desta terra consigo. Os Canhas é aqui, mas também por esse mundo fora.
In «Diário de Notícias da Madeira»