O professor Adelino Sousa deixou Portugal há 30 anos.

Há cada vez mais interesse em aprender portugues

Dedica-se ao ensino da língua portuguesa em oito escolas da região de Paris e acredita que as semanas de imersão (um período em que os alunos têm contacto mais próximo com o idioma que aprendem) são fundamentais para a afirmação do português no mundo. O que queria mesmo era estender o programa a outros países.

Como nasceu a ideia de fazer estas semanas de imersão em Portugal?

Em 2014 fiz um inquérito, a partir de nove mil inscrições, a alunos portugueses em França registados no site do Instituto Camões. Perguntávamos qual era a língua mais falada em casa. Constatei que apenas 38% das famílias de origem portuguesa falam português em casa - e alguns só de vez em quando. A maioria das famílias - contrariamente a outras comunidades, como os turcos, por exemplo, não falam a língua de origem.

Foi isso que desencadeou a vontade de trazer os alunos a Portugal?

Sim, porque na maioria dos casos o único contacto que têm é formal, na escola. E estamos a falar de uma hora e meia por semana.

Desde que o governo reduziu a presença de professores de Português em França, em 2011, sentiu-se esse défice no ensino da língua?

Sim, tivemos um corte de 40 professores, por razões economicistas. Eu, por exemplo, sou professor em oito escolas. Os professores de Português em França não têm só uma escola. Salvo algumas exceções em que a língua portuguesa é única na escola, como é o caso de uma na região de Paris (Romanville) em que, desde a creche até ao 5.º ano, a única língua estrangeira é o português. Só a partir daí é que têm outra língua, que é o inglês. Esse é o único caso em que os professores de Português têm horário completo. A maioria tem de se desdobrar entre oito, nove ou dez escolas. Diariamente dou aulas em duas escolas.

Nota que aumentou o interesse pelo ensino da língua portuguesa nos últimos anos?

Cada vez mais há alunos que não são de origem portuguesa e que se inscrevem para aprender a língua. Julgo que é uma evolução, também porque mudou o estatuto de ELO - Ensino de Língua de Origem. Era vista sobretudo como uma língua de imigrantes. Desde há dois anos, com o novo acordo entre Portugal e França, o estatuto passou a ser EILE - Ensino Internacional de Língua Estrangeira. O que fez mudar essa imagem de língua de imigrantes para língua internacional. E isso nota-se muito, pois há cada vez mais alunos que não têm nenhuma ligação com Portugal. Nesta semana de imersão temos alunos de cinco origens.

In «DN»