O Presidente da República português efectuou uma visita de Estado de três dias ao Egipto, para encontros com o seu homólogo egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, e que incluiu a assinatura de dois acordos na área do ensino do Português e da cooperação com a Zona Económica do Canal do Suez.
Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido com honras militares no Palácio Presidencial de Heliópolis, no Cairo, onde se encontrou com al-Sisi, menos de dois anos depois de ter estado com o presidente do Egipto em Lisboa, em 2016.
Os dois acordos assinados entre os dois países, contemplam um entre o Instituto Camões, a Universidade do Porto e a Universidade de Ain Shams, do Egipto, com vista ao reforço do ensino do Português e o outro é um memorando de cooperação entre a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) Global Parques, Porto de Sines com a Zona Económica do Canal do Suez.
Marcelo Rebelo de Sousa visitou ainda a Universidade de al-Azhar, para um debate com alunos e manteve ainda encontros com o presidente do Parlamento, Ali Abdel Aal, e com o primeiro-ministro, Sherif Ismail, antes de discursar no encerramento do Fórum Económico Portugal-Egipto.
O programa da visita do Chefe de Estado português ao Egipto incluiu também uma recepção à Comunidade portuguesa no país, num hotel daquela capital africana.
Mais de vinte anos depois da visita de Estado de Mário Soares ao Egipto, em 1994, a comitiva presidencial portuguesa integrou o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro, e quatro deputados à Assembleia da República, Fernando Anastácio (PS), Adão Silva (PSD), Nuno Magalhães (CDS) e Ana Mesquita (PCP).
* “Portugal é uma plataforma giratória entre culturas
e civilizações” – Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente da República português justificou a visita ao Cairo com o “novo ciclo de relacionamento” entre os dois países e associou-se à posição da União Europeia na defesa de “passos na transição” no Egito.
Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelo ministro das Antiguidades, Khaled al-Anani, e, minutos depois, aos jornalistas, vincou o “novo ciclo de relacionamento” entre Portugal e o Egito, lembrando a visita a Lisboa, em 2016, do seu homólogo egípcio, Abdel Fatah al-Sisi.
O Chefe do Estado português recordou também a mensagem subscrita pela União Europeia (UE) após as eleições presidenciais que valeram a reeleição de al-Sisi há poucas semanas.
Na mensagem, a UE saudava a “realização do acto eleitoral” e desejava felicidades ao Presidente reeleito, mas também “chamava a atenção para a necessidade de mais educação, mais desenvolvimento, mais capacidade de abertura e de criação de condições de participação”, “fundamental para uma sociedade que é um mundo”.
“Estamos a falar de um país com 100 milhões de pessoas, com um ritmo de crescimento de 2,5 milhões [de pessoas] por ano”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.
Um “mundo essencial” numa região que é também “um mundo”, mas em que “é preciso mais educação, qualidade, desenvolvimento económico, social e político”, acrescentou.
O desenvolvimento político “significa, naturalmente, maior participação e passos na transição para um regime que seja de consagração de valores que são queridos à Europa”, sublinhou o chefe de Estado português, sem nunca falar concretamente em valores democráticos.
Valores esses que a Europa “saúda, espera, incentiva e apela”, afirmou ainda.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu também que vê Portugal, “tanto no plano bilateral como multilateral”, a “desempenhar um papel importante nessa aproximação”.
Aliás, o Presidente lembrou que a sua é a primeira visita de Estado “depois do último acto eleitoral” das presidenciais no Egipto e repetiu que Portugal “é uma plataforma gi-ratória entre culturas e civilizações”.
“E entende que pode desempenhar aqui um papel fundamental. E não esqueçamos que o Egito tem uma posição-chave nesta região particularmente sensível do globo”.
Marcelo defende caminho da paz e usa frase de Guterres para descrever o “quase inferno” na Síria
O Presidente da República usou, no Cairo, a expressão “quase inferno”, de António Guterres, o português que é secretário-geral da ONU, para caracterizar a situação na Síria e na região.
Questionado pelos jornalistas sobre a situação na Síria, com as notícias e imagens de ataques com armas químicas, Marcelo Rebelo de Sousa fez a defesa do “caminho da paz”, seguindo a posição da União Europeia (UE), e da intermediação para se tentar solucionar o problema sírio.
“Infelizmente tem vindo a subir o caminho da guerra, como diz o secretário-geral da ONU, convertendo, se não a região toda, mas particularmente a Síria, numa situação que já comparou a um quase inferno”, afirmou aos jornalistas.
Portugal defende, igualmente, “o apuramento de responsabilidades”, se que “é possível apurar responsabilidades, levar mais longe esse apuramento em relação aqueles que tenham sido autores materiais e, sobretudo, autores morais do uso de armas químicas”, afirmou ainda.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o mais importante é mesmo a “defesa do diálogo, fundamental para esta região”, e a “procura de todos os momentos para haver uma intermediação, que é única forma de resolver o problema da Síria”.
Mais de 40 pessoas morreram no passado Sábado, 7 de Abril, num ataque contra a cidade rebelde de Douma, em Ghouta Oriental, que segundo organizações não-governamentais no terreno foi realizado com armas químicas.
A oposição síria e vários países acusam o regime de Bashar al-Assad da autoria do ataque, mas Damasco nega e o seu principal aliado, a Rússia, afirmou que peritos russos que se deslocaram ao local não encontraram “nenhum vestígio” de substâncias químicas.
Citando informações fornecidas por organizações de saúde locais em Douma, o último bastião rebelde em Ghouta oriental, nos arredores de Damasco, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou na quinta-feira que “cerca de 500 pessoas procuraram centros de atendimento exibindo sintomas de exposição a elementos químicos e tóxicos”.