O primeiro-ministro mostrou-se esta terça-feira, no Funchal, favorável à entrada de capital estrangeiro na economia portuguesa, independentemente do país de origem, reagindo assim às notícias sobre um encontro com a empresária angolana Isabel dos Santos.
Questionado pelos jornalistas sobre a alegada reunião com a empresária sobre investimentos na banca nacional, António Costa não confirmou o encontro, mas sublinhou que o país precisa de ter um sistema financeiro “estabilizado”, e para isso é necessário a entrada de capital estrangeiro.
“O país precisa de investimento directo estrangeiro em todos os sectores, também no sector financeiro”, disse o chefe do executivo, numa conferência de imprensa na Quinta Vigia, sede da presidência do Governo Regional da Madeira, defendendo a importância de Portugal ter um sistema financeiro “estabilizado e devidamente capitalizado”, com capital português mas também com investimento estrangeiro.
“E era o que faltava que em Portugal pudesse haver qualquer tipo de discriminação em razão da nacionalidade para o investimento na economia portuguesa e, designadamente, no sistema financeiro”, vincou, sem referir o nome de Isabel dos Santos, argumentando que o país tem uma “economia aberta” e que vai trabalhar em nome da estabilidade do sistema financeiro. Por isso, continuou, o Governo vê “com bons olhos” todos os que, sendo espanhóis, angolanos, alemães, chineses ou de outra nacionalidade, queiram “investir no sistema financeiro” português com o objectivo de “fortalecê-lo”.
Falando ao lado de Miguel Albuquerque, líder do governo madeirense, Costa lembrou as palavras do anterior Presidente da República, Cavaco Silva, que pediu a este executivo que contribuísse para a estabilização do sistema financeiro, sustentando que é isso que tem procurado fazer.
“Um sistema financeiro forte significa melhores condições para investimentos das empresas nacionais e para maior segurança das poupanças das famílias portuguesas”, reforçou, lembrando o colapso do Banif.
Antes, e naquela que foi a primeira visita oficial enquanto primeiro-ministro à Madeira, António Costa já tinha sido confrontado com a questão do banco que tinha forte implementação na ilha. Foi no Mercado dos Lavradores, onde iniciou a curta visita ao arquipélago – chegou segunda-feira à noite e regressou a Lisboa ao início da noite desta terça-feira -, que o primeiro-ministro foi interrogado por populares, sobre as poupanças perdidas. “Tudo estamos a fazer para resolver”, prometeu, antes de seguir caminho por entre bancas de verduras e frutas, flores e artesanato.
Mais tarde, já no final da visita, na inauguração da nova sede da tecnológica Acin iCloud Solutions, na Ribeira Brava, Costa fez a ponte entre aquele comércio e a economia digital, dizendo que é necessário “acrescentar conhecimento” aos produtos e serviços nacionais.
Criticando os que queriam “atalhar caminho para tornar a economia competitiva com base em baixos salários”, o governante exemplificou com o que viu no Mercado dos Lavradores e na Acin. “Vi várias qualidades de maracujás, mas também os vi a serem aplicados em chocolates ou desidratados. Isto é criar valor, é inovar”, disse. Elogiou também a empresa tecnológica que, numa região ultraperiférica, tem 62 mil clientes em todo o mundo e factura perto de seis milhões de euros.
“A economia digital não está dependente nem das ligações aéreas, do custo dos portos ou dos transportes”, lembrou, insistindo que Portugal tem de apostar na “qualificação dos recursos humanos e capacidade de produção do conhecimento”. Esta é, acrescentou, uma oportunidade histórica para repensar toda actividade nacional, valorizando o que é endógeno.
Da visita, que arrancou segunda-feira com um jantar privado com Miguel Albuquerque, constou ainda um "Madeira de Honra" na Assembleia Legislativa Regional, onde Costa reiterou o ”compromisso” de estabelecer um novo “patamar de relacionamento” e de “partilha de responsabilidades” com a região autónoma, para “reforçar” os “laços de solidariedade” entre todos os portugueses.