O artista madeirense Rigo 23 (Ricardo Gouveia) inaugurou, há pouco mais de uma semana, uma exposição individual num museu de Los Angeles, nos Estados Unidos, país onde se encontra radicado já desde há anos.

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A mostra decorre no “The Main Museum” e centra-se no caso e na figura de Leonard Peltier, um activista nativo americano, das nações Anishinabe e Dakota/Lakota, membro do Movimento Índio Americano (AIM), que foi condenado em 1977 a prisão perpétua pelo homicídio de dois agentes do FBI durante um conflito na Reserva Índia de Pine Ridge. Porém, a sua condenação gerou muita polémica, com a Amnistia Internacional a considerar o seu julgamento injusto, no seu relatório anual de 2010. Encarcerado na Flórida, poderia ter-lhe sido concedida a liberdade condicional em 1993, mas a sua próxima audiência nesse sentido só acontecerá em 2024, quando Peltier tiver 79 anos. O índio sempre negou culpabilidade no assassinato dos agentes federais.
Peltier já fez um apelo por clemência a Barack Obama, mas este negou-o, tal como, antes dele, já Clinton e Bush o tinham feito. Porém, este ano, poderá novamente apelar para a comutação da pena. Mas se tal não acontecer, o activista índio permanecerá preso pelo resto da vida.

Sendo um artista cujo trabalho criativo tem reflectido, já desde há longa data, um amplo engajamento com a causa da justiça, dos direitos humanos e das liberdades individuais, bem como das reivindicações das mais diversas minorias ou presos políticos, Rigo 23 entendeu abordar o caso de Peltier nesta sua mostra.
“Para os activistas que gostariam de vê-lo libertado, Peltier representa algo maior do que ele mesmo: uma história de abuso e injustiça sistémica conta os povos indígenas.Ele pode ser um indivíduo confinado à cela de uma prisão, mas o seu significado social e político estende-se para bem longe das paredes da penitenciária da Flórida, onde está a cumprir a sua pena”, diz um artigo na Los Angeles Magazine, elogiando a grande escultura em madeira de sequóia que Rigo 23 realizou representando Leonard Peltier, e que se encontra exposta na entrada do “The Main Museum”, para ser vista gratuitamente até 13 de Maio.
A estátua foi elaborada para apoiar a causa de Peltier já perto do final da presidência de Obama. A estátua foi exposta na capital, Washington D.C., no campus da American University. Os pés da estátua foram também apresentados como símbolo da causa em várias localidades, desde Pine Ridge a Alcatraz ou Standing Rock. Várias fotografias que documentam essa jornada estão também expostas no “The Main Museum”, em Los Angeles.
Porém, em Washington D.C. e na sequência de protestos, a estátua foi retirada pela American University, sem o conhecimento do artista. O gesto foi condenado como “censura” pela comunidade artística. Agora, está novamente em exibição, acompanhada por um cartaz que pergunta porque é que, em 2018, Leonard Peltier ainda está preso.
“As reacções estão a ser muito positivas e uma crítica publicada a 29 de Fevereiro foi já partilhada mais de mil vezes na plataforma facebook – o artigo fala do caso de Peltier sob uma luz bastante positiva, o que tão pouco é usual no jornalismo mainstream deste país”, referiu-nos o artista madeirense.
Por outro lado, o programador do museu organizou “uma série muito forte de palestras e eventos paralelos e associados á exposição dos quais estou bastante orgulhoso”, referiu-nos Rigo, satisfeito.

In «Funchal Notícias»