O novo embaixador de Portugal na África do Sul, Manuel Maria Camacho Cansado de Carvalho, apresentou-se no sábado, 3 de Fevereiro, à Comunidade portuguesa em Joanesburgo num jantar organizado pela Academia-Mãe do Bacalhau.

EmbaixadorPTJoanesburgo

Apresentou-se sob os auspícios do aniversário dos 530 anos em que Bartolomeu Dias, depois de dobrar o Cabo das Tormentas, aportou à Aguada de S. Brás, hoje designada por Baía de Mossel Bay. A pedido do cônsul-geral de Portugal em Joanesburgo, Francisco-Xavier de Meireles, a Academia do Bacalhau de Joanesburgo foi incumbida de organizar este jantar de apresentação para que num local só o novo embaixador pudesse conhecer os líderes da Comunidade, empresários, dirigentes e presidentes de clubes e instituições, associações e organizações de benemerência. Assim, num ambiente de requinte e festivo, os convidados, cerca de 150, tomaram os seus lugares no restaurante SilvaSale no Wanderers Club, Joanesburgo e o comendador e compadre Gilberto Martins deu as boas noites e boas-vindas a todos os presentes, na sua missão de mestre de cerimónias. Pediu que todos “carregassem” os copos com vinho tinto e solicitou ao presidente da Academia-Mãe, José Manuel Contente, para soar o badalo a fim do presidente honorário, Adriano Leão, dar o “tom” do brinde da tertúlia, o “Gavião de Penacho”. Em seguida, chamou ao palco o presidente. José Contente agradeceu a presença de todos e afirmou “numa ou duas semanas depois do cônsul-geral nos ter falado, conseguimos organizar este jantar e convidar todos. Infelizmente, nem todos estão presentes, mas todos foram convidados”. “Ao nosso compadre e amigo Pedro Silva, por organizar este jantar, a refeição, a decoração da sala, podemos sempre contar contigo Pedro, por isso de todos, a nossa gratidão.” O presidente mencionou todos os presentes, desde comendadores e a presidentes de instituições e enalteceu a presença do Século de Joanesburgo. Realçou a presença de Chris Santana, em representação do speaker da Assembleia Municipal de Joanesburgo, Vasco da Gama. Contente desejou as maiores felicidades ao novo embaixador e à embaixatriz Joana de Carvalho e uma estada na África do Sul produtiva em todos os aspectos. Subiu ao palco, em seguida, o cônsul-geral de Portugal na África do Sul, o compadre Francisco-Xavier de Meireles. “Boa noite a todos, como o presidente Contente já mencionou todos, digo que o protocolo está observado e queria assinalar uma mesa de portugueses expatriados aqui na África do Sul, jovens que se juntaram a nós para acolher o senhor embaixador. Como já foi dito, quer pelo presidente da Academia, quer pelo que foi escrito no Século de Joanesburgo, aquilo que representa a Aguada de S. Brás, onde aportou Bartolomeu Dias, faz hoje 530 anos. Bartolomeu Dias vinha com instruções para chegar à India, mas como sabem aportou em Mossel Bay depois de ter dobrado o Cabo das Tormentas. Na altura, criou-se um hábito, que se repetiria por séculos, de comércio, porque trazíamos as bugigangas, que trocávamos por água e por carne, com os Khoikhoi [Povo Khoekhoe], que já cá estava há milénios. Nós sabíamos que África tinha volta por mar. Pero Vaz de Caminha, 50 anos antes, tinha descido a costa de África até ao que é hoje o Quénia e tinha ouvido relatos que África tinha mar a toda a volta. Era precisamente o Cabo das Tormentas e esta capacidade que os portugueses têm de transformar as tormentas em algo bom, é o que temos que transmitir e assinalar. É preciso assinalar que a Academia do Bacalhau de Joaneburgo celebra 50 anos este ano e eu combinei com o presidente, que iriamos desafiar representantes de partidos políticos e da região a estarem presentes no evento. Quero assinalar que o único que nos respondeu directamente foi o speaker Vasco da Gama, que como sabem é de quinta geração descendente de portugueses. Pediu ao vereador Chris Santana, que o representasse e mostrou o carinho que as autoridades locais têm por nós enquanto Comunidade portuguesa. Nós temos que ir ao encontro das autoridades, relembrar e mostrar que empregamos milhares de pessoais, que investimos neste país e que temos um contributo muito importante na construção da “Rainbow-Nation” a “Nação ArcoÍris”. Este trabalho tem que ser feito e para esse fim, podem contar comigo e com o Consulado-Geral de Portugal.” “Ao senhor embaixador e à embaixatriz Joana de Carvalho, quero desejar os maiores sucessos e que sejam muito felizes aqui na Comunidade portuguesa e na África do Sul” - afirmou o cônsul-geral. O jantar foi então servido, como entrada foi apresentada uma mousse de salmão com uma microsalada. O segundo prato foi um bife do lombo com batatas “sadleback” e cenouras “heirloom”. A sobremesa foi uma bola de gelado de baunilha em cima de uma crosta de mel e um “cigarro” de chocolate branco. A refeição, da mais alta qualidade e sabor, esteve a cargo do compadre Pedro Silva e que contou com a ajuda do seu filho Jean-Michel Silva e que acrescentou um toque ainda maior de requinte ao paladar do serão. Finda a refeição, actuou Raúl Curado, que interpretou algumas baladas para entretenimento de todos. Após a actuação de Curado, o embaixador de Portugal foi chamado ao palco para dirigir algumas palavras aos presentes. “Boa noite a todos”, começou por dizer o diplomata. “Compadre José Contente, a todos os presentes aqui, queria começar por agradecer esta noite memorável, pelo calor e acolhimento da casa. Agradecer pela música - amigo Curado, parabéns! Não sei como conseguiu essa informação ou se adivinhou, mas a “pedra filosofal” é um dos meus poemas favoritos e tem uma referência ao Cabo da Boa Esperança. Sou de Lisboa, andei no Liceu Pedro Nunes, onde era professor Rómulo de Carvalho, professor de Físico-Quí- mica e cujo pseudónimo era António Gedeão, autor do poema. Muito obrigado pela presença de todos aqui na sala. Tive ocasião de ser apresentado às várias pessoas que aqui estão presentes.” “Fico impressionado pelos currículos e perfis dos presentes, pelo número de comendadores na sala, que é um sinal de valor da Comunidade e um sinal do reconhecimento de Portugal desse valor. Tive a honra de merecer a confiança do Presidente da República para representar o Estado português como embaixador mas também quero dizer-vos que todos vós são embaixadores de Portugal e representam o país.” O embaixador continuou a sua intervenção ao afirmar “estou cá desde Janeiro, já cá tinha estado com a minha mulher em visita de turismo há precisamente vinte anos, em 1998. Vimos grande parte das belezas naturais do país na altura, vivemos momentos inesquecíveis e coisas que agora começamos a reencontrar. Na prática chegámos em Janeiro e estamos a redescobrir, mas houve um lado que não visitei na altura, que foi a notável Comunidade portuguesa. Durante estas três semanas com ajuda da equipa que o Estado aqui tem, quero agradecer ao meu amigo Francisco pelo que me tem ajudado a conhecer esta terra. Ao Eduardo Rafael, que tudo tem feito para tornar a minha entrada mais fácil. Pelas mãos deles visitei os Lares, algumas instituições, algumas empresas e agora a Academia do Bacalhau. No curto espaço de tempo que já cá passei, tenho vindo a descobrir, através da imprensa local em português, uma nova maneira de estar e provavelmente vou mudar o meu nome para “Manny” de Carvalho”, gracejou o embaixador. “Apesar de tudo, vale a pena dizer que tenho andado pelo Mundo e tenho no sangue Portugal de norte a sul e de um arquipélago, aqui na África do Sul o mais relevante. Tenho antepassados do Algarve, do Porto, de Coimbra e da Madeira. Há muito de Portugal fora de Portugal. Uma estatística recente diz que há dez milhões no território nacional e ilhas e cinco milhões fora de Portugal. Isso não é novidade, os portugueses sempre viajaram e esta terra é um obvio exemplo. Portugal serviria tanto para uma lição de história como de geografia, visto estarmos nos cinco continentes. Os que estão fora são tão portugueses como os que estão em Portugal, somos todos portugueses e tenho muito gosto em sentir esta portugalidade aqui. Aqui, fiquei com o coração aquecido com o acolhimento que me deram. A todos, muito obrigado e boa noite”, concluíu o embaixador. O evento foi encerrado com o entoar do refrão da Marcha da Academia e com o “Gavião de Penacho”.

 

In «O Século de Joanesburgo»