A importância de dar apoio psicológico em português a quem vive longe do país fez surgir a plataforma online Rumo, que em breve vai expandir para mais línguas.
A importância de dar apoio psicológico em português a quem vive longe do país fez surgir a plataforma online Rumo, que em breve vai expandir para mais línguas, disse o cofundador, Francisco Valente Gonçalves.
A ideia surgiu ao doutorando na Universidade de Leicester, no Reino Unido, na sequência de uma experiência pessoal, quando necessitou de se submeter a um processo psicoterapêutico, em 2015.
Comecei à procura em Leicester, onde estava há oito meses, e comecei a perceber que não havia serviço de psicoterapia só para emigrantes. Havia algumas clínicas que faziam online, mas não um serviço exclusivo dedicado à emigração”, recordou.
Valente Gonçalves acabou por ser acompanhado em inglês na própria universidade mas, confessou, “havia muitas situações em que queria dizer alguma coisa e não sabia como traduzir”, apesar de o seu inglês “ser bom”.
Em discussão com colegas de várias nacionalidades, perceberam que “falar na própria língua poderia ter alguns benefícios” e formulou a ideia de oferecer terapia no chamado Síndrome de Ulisses, a inteligência cultural. Juntamente com Carolina Oliveira Borges começaram a trabalhar numa plataforma online em que é possível marcar uma sessão e escolher o profissional com quem pretende ter a consulta, que é feita através do programa de comunicação à distância Skype.
A Rumo foi lançada publicamente em dezembro de 2016, no Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro, realizado em Coimbra e desde então atraiu cerca de 40 “clientes”, termo usado pelos psicólogos para designar os seus pacientes.
A maioria é da área da academia e da ciência, com um perfil de trabalho especializado, e em cargos de chefia, como líderes de investigação, ou a realizar doutoramentos e pós doutoramentos no Reino Unido.
Nos académicos ou pessoas de cargos de chefia sente-se muito a exaustão, a necessidade de resolver conflitos com pessoas de outras culturas. É interessante pôr as pessoas a pensar e a promover a inteligência emocional e a empatia para conseguirem resolver esses conflitos num meio onde estão culturalmente integrados, ou sem tanta empatia, e com pessoas com as quais não partilham a cultura”, refere Valente Gonçalves.
Um outro grupo de “clientes” são trabalhadores com profissões menos qualificadas, cujos problemas estão sobretudo relacionados com o isolamento social e ansiedade do quotidiano. O psicólogo disse que, para “essas pessoas faz sentido falar na própria língua”. “Tivemos um cliente que nos disse: vocês dão conforto cultural”.
Recentemente, a Rumo também promoveu experiências no campo da responsabilidade social, a pessoas sem capacidade económica ou em duas ocasiões excecionais este ano, na sequência do atentado terrorista de Manchester, em maio, e do incêndio na torre de Grenfell, em junho.
Francisco Valente Gonçalves encontra-se a terminar a tese de doutoramento relacionada com ciências forenses, mas entretanto iniciou atividade como consultor de recursos humanos com trabalho, em Portugal. Porém, mantém-se empenhado neste projeto, no qual o investimento inicial de 60.000 euros já foi recuperado.
Até ao final do mês, a equipa vai triplicar e em breve será aberto um programa piloto em língua inglesa, francesa e alemã, em parceria com grupo hospitalar de Loulé, onde existem muitos emigrantes. “Só vamos meter novos profissionais porque já percebemos que isto resulta”, vincou.