O conselheiro das comunidades portuguesas na Venezuela Fernando Campos afirmou que os emigrantes e lusodescendentes acompanham com expectativa a eleição para a Assembleia Constituinte, reconhecendo a “frustração” dos mais jovens, mas afastou “um êxodo” dos portugueses.

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“A grande maioria tem vivido [a eleição de hoje, convocada pelo Presidente, Nicolás Maduro] com uma certa expectativa e ansiedade para ver que informação é que o Governo da Venezuela vai dar”, afirmou à Lusa Fernando Campos, conselheiro das comunidades portuguesas e antigo presidente do Centro Português de Caracas.

Vivem na Venezuela cerca de 500 mil portugueses e lusodescendentes.

O empresário português comentou que “está à vista de todas as pessoas que a participação neste ato eleitoral foi praticamente nula”, mas disse esperar que o Governo de Maduro vá “tentar modificar a visão que as pessoas têm disto”.

Fernando Campos comentou que a consulta popular convocada pela oposição há 15 dias, com cerca de sete milhões de votos, “marcou uma meta, que eles [executivo de Maduro] agora têm de tratar de mitigar”.

Segundo Fernando Campos, a decisão – anunciada ao final da tarde de domingo na Venezuela - de adiar a hora de fecho das urnas (inicialmente previsto para as 18:00 locais, 23:00 em Lisboa) “não é porque tenham muita gente à porta, [mas porque] querem conseguir uns quantos votos mais”.

O conselheiro comentou que na zona onde vive, na capital venezuelana, normalmente há grandes filas junto aos centros eleitorais, em atos anteriores, mas hoje afirmou não ter visto qualquer concentração de pessoas à espera para votar.

Em particular, sobre a comunidade portuguesa, o conselheiro reconheceu que “há muita frustração, principalmente entre os portugueses de segunda e terceira geração”, pessoas que “querem iniciar a sua vida profissional e familiar”, mas “com a situação económica que a Venezuela tem, não têm futuro absolutamente nenhum”.

Essencialmente “são essas as pessoas que estão a sair da Venezuela” e a procurar Portugal e, em particular, a Madeira – as autoridades regionais estimam que a ilha já tenha recebido cerca de 3.500 a 4.000 emigrantes.

Quanto aos portugueses que se instalaram na Venezuela, que ali têm “negócios e comércio”, Fernando Campos afasta o cenário de “um êxodo maciço”.

Sobre o resultado desta eleição, destinada a escolher os 545 membros da Assembleia Nacional Constituinte que irão redigir uma nova Constituição, o representante da comunidade portuguesa acredita que Nicolás Maduro “vai ficar mais fragilizado, [porque os membros do Governo] não podem comprovar que têm aquele apoio popular que dizem que têm”.

O emigrante português sustenta que apenas através do diálogo será possível superar a crise política no país, mas acredita que só mediante a pressão da comunidade internacional Nicolás Maduro aceitará esse cenário.

“Eles não têm essa motivação para o fazer”, disse, assinalando que “negociar é fazer cedências de parte a parte”.

“Eles querem negociar, mas sem ceder absolutamente nada”, acrescentou.

No domingo, foram chamados a votar mais de 19,8 milhões de venezuelanos para as eleições para a Assembleia Constituinte e, segundo o Conselho Nacional Eleitoral, terão já votado cerca de 8,5 milhões de pessoas, um resultado que o presidente do parlamento, Julio Borges, considera fraudulento.

A aliança opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) mostrou imagens de locais de votação completamente vazios para sustentar que a escassas horas do fecho das urnas apenas 7% dos eleitores tinha votado nas eleições da Assembleia Constituinte.

 

In Diário de Notícias da Madeira