Pela primeira vez milhares de venezuelanos realizaram, na quinta-feira, uma procissão fora de época à Divina Pastora, a quem pediram liberdade, democracia e paz no país.
A iniciativa foi promovida pela Igreja Católica e teve lugar no estado de Lara (centro do país) onde a 14 de janeiro de cada ano se realiza a procissão em honra da “Excelsa Padroeira”, que parte da Igreja de Santa Rosa de Lima até à catedral da cidade de Barquisimeto.
“A Divina Pastora tem de nos proteger do mal, conseguir liberdade, democracia e trazer-nos a paz que o país tanto precisa. Fechei o meu café e vim rezar, pedir-lhe tudo o que tenho pedido a Nossa Senhora de Fátima, com muita fé e esperança”, disse, ao telefone, um comerciante português à Agência Lusa.
Francisco Fernando explicou que o país precisa de muita oração, já que a insegurança e repressão da polícia estão a dificultar a vida da população, incluindo dos comerciantes, que “tudo fazem para conseguir manter abertas as portas dos seus negócios”.
As televisões locais mostraram imagens de pessoas na procissão, descalças, de joelhos e em cadeira de rodas, algumas entre lágrimas, enquanto entoavam o hino da Venezuela.
Dezenas de jovens com imagens religiosas e fotos de pessoas mortas em manifestações da oposição uniram-se à procissão, simbolizando a “resistência nacional” e instando a população a sair às ruas, “porque a luta é de todos”.
A Divina Pastora de Barquisimeto é uma vocação mariana, considerada a terceira maior a nível mundial, depois de Nossa Senhora de Fátima e da Virgem de Guadalupe.
A devoção é originária de Sevilha, Espanha e os primeiros registos do culto na Venezuela datam de 1706, com a chegada dos Capuchinos. A imagem, encomendada a um escultor espanhol, foi enviada por erro para a Venezuela, em substituição da Imaculada Conceição.
Um padre local tentou devolver a imagem, mas a caixa onde se encontrava ficou tão pesada que foi impossível levantá-la do chão. Este acontecimento foi interpretado como um sinal de que a Divina Pastora queria ficar na Igreja de Santa Rosa.