É precisamente das Ilhas do Canal que nos chega o primeiro testemunho deste ano.

EmbaixadorJersey

O “embaixador” que esta semana apresentamos chama-se Duarte Fernandes e fala-nos da Ilha de Jersey. Tornou-se empresário aos 21anos e foi o primeiro de 6 irmãos a emigrar.
Com apenas 20 anos, Duarte Fernandes, natural de Santana, teve de arrumar as malas rumo à Ilha Jersey devido à falta de trabalho na década de 90 na Madeira.
À D7, o empresário conta a sua história nesta rubrica dedicada aos nossos digníssimos “embaixadores” madeirenses espalhados por esse mundo fora.
Começa por contar que, aos 5 anos, ajuda na empresa de obra de vimes do seu pai; mais tarde, e devido à crise neste setor refere “que esta obra quase acabou complemente” e a sua vida teve de tomar outra direção. Abandonou a escola e começou a trabalhar na construção civil para ajudar a família, permitindo assim que os seus irmãos pudessem estudar. Duarte é o mais velho de seis irmãos.
Só depois de cumprir o serviço militar, e devido à falta de emprego, decide emigrar para a Ilha de Jersey, onde tinha um tio a trabalhar na hoteleira.
Começou por fazer de porteiro no hotel mas o trabalho era sazonal (de maio a outubro). Como o hotel fechou em outubro e sabia que não havia trabalho na Madeira, não quis regressar e foi persistindo. Mas não foi nada fácil arranjar trabalho. Recorda a título de exemplo, “quando havia uma vaga apareciam mas de 100 pessoas, andávamos à procura de uma oportunidade “. Foi necessário andar às voltas para arranjar trabalho. Refere que nem sequer para DJ ou para lavar loiça num restaurante aparecia trabalho. Certo dia, foi bater à porta de uma empresa de limpezas que precisava de alguém para cobrir as férias de um funcionário. E eis que ficou a trabalhar nessa empresa, mas relata com entusiasmo “por mais estranho que pareça, os empregados eram todos portugueses e eu era aquele que dominava mais o inglês, até que acabei por ser o tradutor, dando assim as orientações dos responsáveis da empresa”.
Mais tarde, regressou novamente a trabalhar no hotel e, nas horas vagas, realizou um desejo que era o de estudar. Começou a estudar inglês para aperfeiçoar-se, depois fez um curso de contabilidade e aproveitou ainda para fazer um part-time na área da limpeza.
Teve sempre o desejo de trabalhar por conta própria, como o pai. Foi no ano de 1995, que trabalhou para uma empresa de limpeza que, crescendo consideravelmente teve de ser repartida. E o dono começou por vender partes de empresas a outras pessoas, e eis que a certa altura, Duarte Fernandes se dirigiu ao patrão e disse: “Se estais a fazer isso a outras pessoas, porque é que não me dás oportunidade a mim? Estava há pouco mais de um ano em Jersey e custou bastante, pois para exercer alguma profissão por conta própria tinha de residir ai há mais de 5 anos. Logo tive de tirar cursos adicionais e obter licenças.
Os primeiros três anos foram muito difíceis para a minha empresa, porque tive de fazer um grande investimento, cinco anos depois atingiu um patamar enorme pela qualidade de serviço e número de empregados e aquisição de bons contratos nesta aérea.”
A empresa cresceu até que ,em 2003, chega à ilha de Guernsey, e neste momento emprega cerca de 200 funcionários, entre os quais 150 portugueses, sendo a sua maioria oriunda da Ilha da Madeira. Diz-nos que tem orgulho em dar emprego a madeirenses, mas neste momento é difícil encontrar novos funcionários, devido ao Brexit e à nova realidade económica que se vive em Portugal.
Deseja um dia regressar à ilha e atirou “Porquê deixar uma ilha de sol e tão linda?” e ainda “pois saudade que a ilha deixa é a família e a gastronomia “. No entanto, colabora em diversas iniciativas na comunidade madeirense que permitem dar a conhecer a cultura madeirense aos seus filhos, para que estes não percam as raízes culturais.

«DN Madeira»