Jorge Carvalho honra promessa de Jardim e doa 5 mil euros ao projecto comunitário.

SonhoLosTeques
Faz hoje 10 anos que foi lançada a primeira pedra para a construção da réplica do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Los Teques, na Venezuela, um projecto que a imensa comunidade madeirense e lusodescendente radicada naquela localidade serrana do estado de Miranda pretende inaugurar em Maio do próximo ano, mesmo conhecendo as adversidades impostas pela convulsão económica e financeira que eleva o custo de vida diariamente no país.

Ninguém sabe ao certo quanto já foi investido o santuário, tal é a oscilação exponencial das taxas cambiais do bolívar, mas acredita-se que o valor já terá ultrapassado os 10 milhões de dólares.

A comunidade emigrante de Los Teques não esconde alguma amargura pelo facto de o Estado Português nunca ter contribuído com um cêntimo para a construção da réplica do santuário da Cova de Santa Iria em solo venezuelano. Agostinho Gonçalves, administrador do santuário, revela que o governo venezuelano, na altura dirigido por Hugo Chavez, doou, há 5 anos, 23,6 milhões de bolívares. Hoje não é mais do que cinco vezes o salário mínimo mas na altura deu para comprar o relógio, o campanário, o sino e parte da construção.

Paulo da Silva, coordenador da construção, lembra que o ex-presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, prometeu ajuda financeira numa visita à comunidade, realizada em 2008, no lançamento da primeira pedra do santuário. O ex-governante pediu para que lhe apresentassem o projecto no Funchal, o que chegou a acontecer, mas a Região entrou em falência técnica, a ‘troika’ tomou conta da administração pública e as prioridades, na óptica da despesa, passaram a ser outras.

A promessa acabou por ser honrada no último domingo, Dia da Região Autónoma da Madeira e precisamente 10 anos depois. A ajuda chegou pelas mãos do secretário regional de Educação. “Queria deixar, em nome do presidente do Governo Regional da Madeira, um pequeno donativo para a construção deste fantástico santuário que se procura erguer em Los Teques e que é uma referência daquilo que dignifica o nosso país e que é também uma homenagem muito significativa a Nossa Senhora de Fátima de que muitos emigrantes são devotos”, transmitiu Jorge Carvalho, sob o palco do arraial, arrancando aplausos do público que o ouvia atentamente.

A entrega de um cheque de 5000 euros é uma ajuda preciosa num momento em que a economia venezuelana sofre os efeitos diários da hiperinflação. O governante madeirense agradeceu a hospitalidade, confessou que se sentia em casa e deixou uma palavra de esperança: “as adversidades são passageiras, ainda vamos voltar a ter dias prósperos e de sucesso neste país”. Aos emigrantes que pretendam voltar à Madeira deixou um conselho: “estejam o mais bem documentados possível para que a integração seja tão célere quanto possível”.

O ‘formigueiro’ de Los Teques

No último domingo, Dia da Região Autónoma da Madeira, mais de 200 voluntários juntaram-se na organização do 48º arraial para angariação dos fundos para a concretização do projecto comunitário acalentado por uma devoção que surpreende os próprios venezuelanos, também bastante fervorosos com o catolicismo.

No rés-do-chão do templo, que será a futura garagem da imponente igreja, existe no canto ao fundo um altar improvisado com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. À frente, alinham-se várias cadeiras de plástico num auditório de paredes ainda por revestir mas que junta, todos os domingos, 200 pessoas para assistir à celebração eucarística sempre bastante concorrida.

As atenções centraram-se em Jorge Carvalho. O secretário regional de Educação fez um périplo pelas dezenas de barracas instaladas no piso -1 onde encontrou e provou de tudo um pouco daquilo que se encontra num arraial madeirense: sopa de trigo, carne para espetada, bolo do caco, milho frito ou poncha. A animação é sempre garantida pelo folclore alternado com os mariachi numa fusão multicultural saudável.

O secretário regional de Educação foi bastante saudado e muitos não resistiram a partilhar as suas iguarias, falar das origens e a tirar ‘selfies’, mesmo aqueles para quem Jorge Carvalho era um ilustre desconhecido, com foi o caso de uma venezuelana que posou a filha ao lado de Jorge Carvalho. “Para que ela um dia diga: eu estive com aquele senhor”.

João Sidónio Rodrigues é o encarregado da carne. Para espetada, o presidente do Directivo da Associação dos Filhos de Câmara de Lobos trouxe 200 quilos do negócio de Caracas para o arraial de Los Teques. Tudo ali é oferecido ‘pro bono’, é trabalho voluntário que junta 50 pessoas da comissão de construção do templo a mais de 200 pessoas sempre prontas a dar os braços pela causa comum.

“Hoje está fraco, penso que a chuva afugentou muita gente”, analisa o emigrante natural da Quinta Grande. “Em Maio trouxemos 300 a 450 quilos de carne para aqui”, recorda. A comunidade organiza-se como um formigueiro. “O Sr. Paulo tem uma padaria, traz a farinha e faz aqui o pão, o pernil também é um senhor que vende em Los Teques e doa 10 ao arraial”, explica.

Dos arraiais já saiu cerca de 60% do financiamento para o templo, estima Agostinho Gonçalves, administrador da comissão de construção do santuário. Em média, cada arraial pode render 1000 a 2000 euros, um fundo que se torna cada vez mais difícil de maximizar devido à inflação galopante.

O edifício do templo terá também um edifício anexo à Casa Episcopal onde funcionará os serviços consulares portugueses (existem oito na Venezuela), uma forma de aproximar os serviços públicos daqueles que desesperam pela renovação de passaportes ou de títulos de cidadão

In «Diário de Notícias da Madeira»