Segundo informação que me foi dada pelos Serviços Consulares de Portugal na Holanda, seráo cerca de 20 mil os portugueses residentes neste país, ao mesmo tempo que em Amsterdam seremos cerca de oito mil.

Holanda

É claro que estes dados, são aqueles que a entidade representante de Portugal oficialmente têm e isto porque na realidade haverá muitos mais portugueses residentes neste país das tulipas, onde o número de jovens que cá estão, quer no Erasmus, quer noutros métodos de ensino, será bastante elevado. Bem como os trabalhadores contratados sazonalmente por empresas para procederem a trabalhos de vária ordem, também será bastante significativo, embora, como se compreenda, não estão inscritos naquele Consulado.
De qualquer modo há cerca de 25 anos o número de portugueses oficial e realmente a viver em Amsterdam era bem menor, mas a sua participação cultural e recreativa era bem mais significativa. Foi por volta dos anos 60 que os primeiros portugueses, de forma significativa, começaram a vir para Amsterdam e isto graças a um contrato que a KLM teria feito. É claro que os que vieram trabalhar para o aeroporto foram o chamariz para outros que, entretanto, e dadas as boas condições de trabalho e salariais existentes em Amsterdam, também para cá rumaram.
Já com algumas centenas de portugueses nesta cidade, a língua e o alojamento eram de facto os grandes problemas. E por isso havia que se juntassem, reunissem, para que quando todos se ajudassem, os problemas fossem menores. Nasceu assim a primeira associação de portugueses a que foi dado o nome de ‘Casa Portuguesa’ que funcionava conjuntamente com uma associação espanhola. É claro que o convívio, a ajuda entre todos era o lema, mas as instalações não eram as melhores. Mas foi o que puderam arranjar.

Associativismo português
Entretanto algum tempo mais tarde e fruto do clima que se vivia em Portugal, com a guerra colonial e a perseguição a quem não fosse da “cor” do Governo, foi criada a ‘Associação Resistência e Trabalho’, composta essencialmente por refugiados politicos que aproveitavam para pedir asilo. Também as instalações eram de pouca qualidade e a sua missão era essencialmente dar apoio a quem fugia de Portugal para Amsterdam.
E já com duas associações de portugueses a funcionar, surge uma terceira, em abril de 1968, esta bem vincada com o desporto, principalmente com o futebol. Foi-lhe dado o nome de ‘Grupo Desportivo e Recreativo Lusitanos de Amsterdam’. Esta associação desde logo arranjou uma sede, transformando uma ampla garagem numa sala com condições de albergar os inúmeros associados que, praticando futebol amador, tinham nesse espaço o seu centro de convivio.
A associação foi crescendo e chegou a ter mais de 500 associados. Pela sua sede passaram grandes vedetas do fado e canção portuguesas isto para além dos bailes realizados quase todos os fins de semana, actividades culturais de grande monta e porque não, os jantares que, eram sempre apreciados por portugueses e holandeses que da gastronomia portuguesa tinham nos Lusitanos o sabor e o paladar da comida portuguesa.
E o futebol era praticado por várias equipas desde juvenis a seniores e até femininos, mas sempre nos campeonatos amadores. E para apoiar todas estas atividades, para além do programa enviado a todos os asssociados, era publicado um boletim informativo trimestral, com artigos, opiniões e informações de interesase quer de Portugal quer da Holanda.
Missa em português
Mas nesta altura estas três associações começavam a pensar numa fusão de molde a poder dar mais apoio aos portugueses que continuavam a aumentar. Várias reuniões foram feitas mas, não se chegando a consenço, a RT e a Casa Portuguesa, fundiram-se e deram lugar à A.P.A. – Associação Portuguesa de Amsterdam, isto em abril de 1984. A partir de então ficaram os Lusitanos e a APA.
A nova associação desde logo encontrou numa antiga escola, um edifício com excelentes condições onde instalou a sede. O edifício era espaçoso e até possuia salas onde posteriormente foi instalada a escola portuguesa.
Também com algumas centenas de associados a nova associação desenvolveu igualmente muitas atividades informativas e lúdicas, tendo inclusivamente um programa na rádio holandesa, isto para além de aos fins de semana ter atividades musicais com artistas muitas vezes vindos de Portugal e bailes com conjuntos portugueses que na altura existiam em Amsterdam. Mas, como se compreenderá, esta nova associação criou no ambiente associativo uma certa separação entre as associações, pois cada uma delas julgava-se melhor que a outra. Normal, e isto a ser copiado pelos meandros do futebol.
Mas não só de associações vivem os portugueses em Amsterdam. Também desde 1964 que se celebra missa em português para os católicos. Inicialmente não era todos os domingos, mas a partir de 1989, ano em que foi adquirida a Igreja onde hoje está a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima de Amsterdam, que todos os domingos com algumas centenas de portugueses se celebra missa.
Mas para além desta cerimónia religiosa dominical, também casamentos, batizados, funerais e outros apoios, mesmo no aspecto legislativo, a Igreja presta ajuda aos portugueses e atualmente com a vinda de muitos brasileiros para cá, acaba por dar esse apoio a todos as pessoas que falam a língua portuguesa.
Escola Portuguesa de Amsterdam
Também aulas da língua holandesa têm sido ministradas. A direção é eleita e tem sempre como presidente o pároco: na história da paróquia e dos cinco que teve, quatro eram holandeses, mas falavam a língua portuguesa, o mesmo sucedendo com o atual.
Também o folclore teve há alguns anos atrás o seu ponto alto, quando existiam na cidade quatro agrupamentos. Atualmente apenas existem dois.
O Rancho de S. Martinho, fundado em 1984, ligado à Igreja portuguesa que tem cerca 20 elementos, todos jovens e que atua principalmente em algumas festividades naquele local.
O outro é o Rancho Folclórico as Lavradeiras de Amsterdam que, com mais de 30 elementos, foi fundado em 1977, atuando várias vezes quer na Holanda bem como em países vizinhos.
Mas também o desporto, especialmente o futebol, tem no F.C. Portugal um clube que instalado num complexo desportivo. Tem junto à sua sede alguns campos de futebol, onde as várias equipas que possui, desde juvenis a seniores e até velhas guardas, para além do treino, fazem os seus jogos oficiais. Concorre com as equipas que possui aos campeonatos amadores e tem obtido bons resultados.
Por último e como se costuma dizer que os últimos são os primeiros, Amsterdam tem para os portugueses a sua escola.
Neste momento a Escola Portuguesa de Amsterdam tem cerca de 100 alunos, distribuídos por oito turmas. A idade de frequência das aulas vai dos 4 aos 18 anos, aulas essas ministradas por duas professoras portuguesas, que ensinam a língua e a cultura portuguesas aos jovens filhos de portugueses, cá residentes.
A escola funciona em duas salas num complexo religioso, mas já teve em tempos idos uma importância relevante na vida dos portugueses de Amsterdam.
Tinha seis professores, as aulas eram dadas duas vezes por semana em dois edificios diferentes e tinha algumas centenas de alunos.
Ontem, como hoje, o Instituto Camões é o responsável por subsidiar este ensino, mas os pais dos alunos também pagam uma pequena quota de inscrição.

Uma emigração diferente
Mas os dias de hoje em Amsterdam são totalmente diferentes de há alguns anos atrás. Embora o número de portugueses seja maior, a afluência dos mesmos a todos estes locais, diminuiu em número elevado.
As duas associações existentes, de centenas de associados passaram para dezenas. Os agrupamentos folclóricos que chegaram a ter nos seus quadros mais de 50 elementos passaram para menos de metade.
A Igreja portuguesa que nas suas missas dominicais tinha mais de 300 portugueses que enchiam o templo, atualmente são pessoas de nacionalidade brasileira que a ocupam, ao contrário dos portugueses que comparecem em pequena quantidade, excetuando-se as alturas da Páscoa e Natal.
Também os jornais que para cá vinham, quer desportivos quer noticiosos, deixaram de aparecer e isto muito particularmente fruto do ‘porte pago’, uma medida altamente penalizadora para os portugueses que andam pelo mundo e que com as suas poupanças que enviam para Portugal, ajudam o país.
Mas aos seus governantes apenas interessa o dinheiro enviado, já que das regalias e dos direitos de todos, como é receber um jornal português, se esquecem.
Mas as causas da diminuição da afluência do número de portugueses aos seus centros de convívio, de culto e às suas atividades lúdicas, poderá atribuir-se, talvez, à morte de muitos que para cá vieram há longos anos.
O regresso de muita gente a Portugal, já reformados, poderá também traduzir essa diminuição. A televisão portuguesa, que hoje sem quaisquer dificuldades se pode sintonizar em todos os seus canais, poderá definir um ficar em casa ou ir à associação.
E também a falta de novos sócios esteja no facto de os nossos filhos que, falando perfeitamente a lingua holandesa, criam os seus hábitos de forma diferente dos nossos, ou seja, jogar a sueca ou o dominó, beber um verde branco ou um maduro tinto, não faz parte dos seus hábitos ou do seu modo de vida.
Por isso, não aparecem nestas instituições portuguesas que se assim continuarem tudo leva a pensar que mais ano, menos ano, a sua extinção puderá ser um facto.
O que é pena, porque Amsterdam, sendo a capital da Holanda, sempre soube receber e acima de tudo os portugueses, que embora com grandes dificuldades com esta difícil língua, sempre se souberam adaptar e criar a empatia com este povo das tulipas, das bicicletas e do queijo.
E a participação de holandeses nas nossos centros convívio também se faz notar. A esperança é última coisa a morrer e por isso, aguardamos com fé e confiança, por novos dias.

In «Mundo Português»